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Falhas em teste podem deixar até 6 mil mortes por Covid sem registro

Flávia Faria - Folhapress
03 jun 2020 às 15:22
- Gilson Abreu/AEN
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Problemas no processamento, coleta e análise de testes podem ter tirado das estatísticas cerca de 6.000 mortes por Covid-19 no Brasil.
São óbitos que extrapolam a média histórica de mortes por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) sem causa definida entre 1º de março e 2 de maio. Essas pessoas chegaram a ser testadas para verificar a presença do novo coronavírus, tiveram resultado negativo, mas na maioria dos casos os testes foram feitos fora dos padrões ideais.

Ao menos 61% (3.713) desses pacientes tiveram amostras coletadas fora do período em que o teste utilizado (o RT-PCR) é mais sensível à detecção do novo coronavírus.

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Há ainda outros fatores que podem prejudicar a análise e levar a falsos negativos, de acordo com especialistas consultados pela reportagem, e que são reconhecidos por secretarias de Saúde.

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Como mostrou a Folha de S.Paulo, até o dia 2 de maio 9.805 pessoas morreram pela Covid-19 no país, segundo dados do Sistema de Vigilância da SRAG, do Ministério da Saúde.

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O número difere do divulgado à época (6.724) porque a pasta informa as mortes de acordo com a data em que são notificadas pelas secretarias de Saúde, e não quando ocorreram de fato. Atrasos no processo de notificação geram esse descompasso na contabilidade.


Além disso, outras 6.339 mortes por SRAG sem causa definida ultrapassam a média histórica, ou seja, destoam do padrão de óbitos observados no mesmo período em outros anos.

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Esse número excedente provavelmente se trata de óbitos pelo novo coronavírus, visto que a doença é o que há de novo no cenário.


Por que, então, esses óbitos não foram registrados como Covid-19? A resposta pode estar nos testes e nas condições em que são feitos.

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A amostra para o teste RT-PCR, o mais preciso e indicado pela OMS para a correta realização do diagnóstico, precisa ser coletada em certas condições para que a análise não seja prejudicada.


O ideal é que a coleta do material das vias aéreas do paciente, com o swab (espécie de cotonete grande), seja feita entre o 3º e o 7º dia desde que os sintomas apareceram.

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Não é uma regra absoluta, mas uma indicação do período em que a carga viral costuma ser maior e mais facilmente detectável na secreção do nariz e da faringe.


A partir daí, se a doença se agrava, o vírus se aloja nas vias aéreas inferiores, e a coleta idealmente deveria ser feita de outra forma –mas são métodos mais complexos e nem sempre disponíveis.

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Em 61% dos casos analisados pela reportagem, a coleta foi feita ou muito cedo ou, quando mais tarde, com material das narinas e garganta (o que diminui a confiança no diagnóstico para Covid-19).


Isso aconteceu com maior frequência em São Paulo (2.033 óbitos), Minas Gerais (403) e Paraná (344).

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Conseguir realizar a coleta no período ideal, contudo, pode não ser tão simples, especialmente nos casos mais graves. Em geral a doença demora alguns dias para se agravar, levando o paciente a procurar uma unidade de saúde já após do período ideal para o teste.


"Pela evolução natural, a piora costuma acontecer entre o 6º e o 10º dia, o que coincide com o momento em que começa a cair a sensibilidade do PCR para amostras de nariz e de garganta. Se você fizer só o swab, pode vir negativo", diz a infectologista do Grupo Fleury Carolina Lázari.
Boa parte dos pacientes, portanto, já chega ao hospital fora da janela em que o teste costuma ser mais sensível.


"O ideal é testar mesmo assim. Dá uma oportunidade a mais de descobrir a doença, e há casos em que conseguimos identificar mesmo em estágio avançado", diz Alessandro Farias, professor do Instituto de Biologia da Unicamp e coordenador de uma força-tarefa de testes para Covid-19.


"Mas, por mais que o RT-PCR seja sensível, o negativo não diz que você não tenha o vírus. Às vezes o vírus só não está nas vias aéreas", completa.


Mesmo quando é possível recolher a amostra no período ideal, há uma série de outros fatores que podem prejudicar a qualidade da análise e que, segundo os especialistas consultados, são observados com relativa frequência.


O principal é a forma com que o profissional coleta a secreção com swab, método mais comum. Muitas equipes de saúde fizeram isso pela primeira vez e nem sempre com treinamento adequado. Secretarias reconhecem o problema e têm intensificado a capacitação dos funcionários.


Há ainda questões quanto ao armazenamento das amostras (que precisam ser refrigeradas), transporte, tempo até que sejam analisadas e qualidade dos reagentes utilizados nos testes, de acordo Ilma Brum da Silva, diretora do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


Em nota, o Ministério da Saúde atribuiu o aumento do número de SRAG sem causa definida à maior sensibilidade nos sistemas de vigilância em razão da pandemia.


A pasta diz que, no SUS, são realizados testes RT-PCR e, para casos que excedem 8 dias desde o início dos sintomas, testes rápidos, que identificam se a pessoa tem anticorpos para a Covid-19, mas são menos confiáveis.


A base de dados analisada pela reportagem, contudo, indica que o único critério utilizado para o diagnóstico dos casos em questão foi o RT-PCR.


O Instituto Butantan, responsável pela testagem em São Paulo, afirmou que observou problemas na coleta e que produziu e distribuiu material para treinar equipes.


A Secretaria de Saúde de MG afirmou que fornece orientações para a coleta correta de amostras, mas que há diversos fatores que influenciam a análise e que problemas têm acontecido em todo o país.

A Secretaria de Saúde do Paraná disse que em casos suspeitos com primeiro resultado negativo recomenda a realização de novo exame e que indica ainda a combinação do RT-PCR com testes rápidos em casos com sete ou mais dias desde o início dos sintomas.


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