José Ricardo da Silva tem 11 anos, mora em uma favela de Piracicaba com o padrasto e é portador de hidrocefalia, uma anormalidade grave que causa a retenção de água na caixa craniana.
O garoto vive com o padrasto, José Manoel das Neves (64), e os outros dois irmãos na Favela da Portelinha, onde o esgoto corre a céu aberto. A casa da família é de tapumes e o chão, de terra batida úmida, pois há infiltrações de esgoto.
O menino já realizou a cirurgia de instalação de uma válvula que drena o líquido e agora é preciso realizar um novo procedimento para a troca do equipamento. No entanto, os médicos vetaram essa possibilidade, declarando que o garoto precisa de um ambiente limpo e propício para sua recuperação.
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Pensando em resolver este problema, Neves recorreu ao Programa Minha Casa, Minha Vida e, novamente, encontrou barreiras. A família tem renda total mensal de 1,800 reais, provindos da aposentadoria de seu José e do benefício que José Ricardo recebe por ser portador de deficiência, enquanto a primeira categoria do programa só atende famílias cujas rendas não ultrapassem 1,600 reais.
Segundo advogados, qualquer contribuição que componha a renda total da família entra como critério de seleção para recebimento do benefício. A Caixa Econômica Federal declara que os critérios em relação à renda familiar são definidos pelo Ministério das Cidades e não podem ser alterados.
Enquanto isso, a família passa por momentos de dificuldade. "O menino precisa da cirurgia, mas tenho medo de fazer e ele ser contaminado no pós-operatório. Como é que pode, ele se arrastando por ai, depois da operação, no meio desse esgoto?", desabafa o padrasto.
Alternativa
Uma das soluções encontradas para auxiliar o garoto José Ricardo e a família, seria entrar no programa na segunda faixa de renda (de 1,600 a 3,275 reais/mês). Nessa categoria, a família receberia apoio financeiro para adquirir a casa própria, no entanto a compra seria realizada diretamente com as empresas do setor de construção civil.
Mesmo assim não seria possível para Neves, já que, de acordo com a Empresa Municipal de Desenvolvimento Habitacional de Piracicaba, parceira da Caixa no projeto, não há, na cidade, nenhuma construção que se enquadre nesta categoria.
Situação atual
O caso é acompanhado por toda a comunidade e a líder comunitária, Janaina Ferraz, está presente com a família desde que a esposa de seu José faleceu. "Não sei como é possível eles permitirem que isso fique dessa forma. Eles prometeram e não cumpriram, como sempre. Enquanto isso, o tempo vai passando e o menino fica sem a válvula", desabafou.
O menino já não tem controle dos membros inferiores, nem das necessidades fisiológicas, o que exige o uso de fraldas. Quando precisa se locomover em casa, ele se arrasta pelo chão, quando precisa sair, é o padrasto quem o carrega nas costas. A mãe, Edileuza, faleceu há um ano e deixou, além de José Ricardo, um filho de 15 anos, fruto do primeiro casamento, e um filho de 9 anos que teve com seu José Manoel.
A primeira válvula em José Ricardo foi instalada já no primeiro mês de vida e trocada aos cinco meses por apresentar falhas. No garoto, a próxima troca teria que ter sido realizada há dois meses, já que deve ser realizada há cada dez anos.
O procedimento de José Ricardo já foi autorizado pelo SUS, mas o padrasto do garoto não deu continuidade, devido às condições do ambiente de convívio.
Ajuda
Desconsiderando o entrave da situação mediante o programa do governo, José Manoel ainda é grato às pessoas que colaboraram com o menino e a família. "Ganhei muita coisa, muita gente veio visitar o José Ricardo, colaborou. Não me queixo da solidariedade das pessoas. Ganhei ventilador, cama, colchão, comida, outros ajudaram com remédios, até advogados me procuraram pra tentar ajudar o menino. Vamos ver se eles conseguem. Tive muita coisa mesmo", conta.
Quanto à questão de higiene após a cirurgia, ele não dispensa a existência de outro local para residir com José Ricardo e os outros filhos. "Só posso resolver o problema do meu filho quando tudo isso tiver uma solução, quando eu sair daqui. Sair e ficar três meses fora, e depois voltar, não adianta. Como esse menino vai continuar aqui desse jeito? Quero que ele se recupere na nossa casa, limpinha, com conforto e segurança", afirmou.
(Com informações do Portal UOL)