Começou a funcionar no município de Pato Bragado, no Oeste do Paraná, um laboratório de extrato seco. A estrutura faz parte de uma iniciativa pioneira no país, voltada ao incentivo à cadeia produtiva de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos. O diferencial deste projeto está na implantação de um arranjo produtivo local (APL) de plantas medicinais, com base na agricultura familiar.
Inicialmente, são 24 famílias de agricultores, que se organizaram e formaram a Cooperativa Gran Lago. Eles são responsáveis pela produção e secagem da matéria-prima, o que é feito com a assistência técnica da Itaipu Binacional e parceiros do programa Cultivando Água Boa. As plantas medicinais, após a secagem, são enviadas para o laboratório, que tem capacidade para processar 96 toneladas de extrato por mês (10 vezes mais do que a produção atual).
Até o momento, o projeto Plantas Medicinais da Itaipu teve mais ênfase na questão alimentar (chás, sucos, concentrados vitamínicos e condimentos). Com o laboratório de extrato seco, passa a dar atenção também à produção de insumos para medicamentos. Os extratos serão processados por outras empresas ou farmácias para composição dos medicamentos fitoterápicos.
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Extratos
O uso de extratos na elaboração de medicamentos fornece maior segurança e eficácia para sua utilização pela população. No mundo todo existe uma forte tendência do aumento do uso de medicamentos fitoterápicos pela população, e esta prática já é reconhecida pelo sistema único de saúde e incentivada desde 2006 com a edição da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos pelo governo federal.
A maior parte dos recursos para a criação do laboratório foi garantida pela Itaipu. Também foi realizada a reforma e readequação da infraestrutura de um barracão inicialmente previsto para abrigar um frigorífico, pela Prefeitura de Pato Bragado. "Aproveitamos um investimento inicial que havia sido feito nesse local para um projeto mais sustentável e mais singificativo para a região", afirmou a prefeita Normilda Koehler.
Além da parceria com a prefeitura para a reforma das instalações, o projeto contou com a orientação, projeto técnico e aporte de recursos para equipamentos da Sustentec (Produtores Associados para Desenvolvimento de Tecnologias Sustentáveis). A associação também responde pela articulação da cadeira produtiva (agricultores, laboratórios e empresas, entre outros).
Cadeia produtiva
"A implantação do laboratório representa um salto qualitativo na cadeia produtiva, pois até então a produção local era de baixo valor agregado: somente plantas em rasura e trituradas. Agora, há um potencial muito grande para os produtos de maior valor agregado. A expectativa é de crescimento da demanda por extratos para a área de alimentos e de medicamentos", afirma Euclides Lara Cardozo Júnior, presidente da Sustentec.
O laboratório foi inaugurado na última semana, com a presença de representantes do Ministério da Saúde, Ministério da Agricultura, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Instituto Brasileiro de Plantas Medicinais e autoridades e lideranças regionais. "Dentro do contexto do Cultivando Água Boa, arranjos produtivos locais com base na rica biodiversidade e diversidade cultural são estratégias essencias para a sustentabilidade da Bacia Hidrográfica do Paraná 3", disse o diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu, Nelton Friedrich.
Calcado na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, que também inclui a homeopatia e a acupuntura, o projeto Plantas Medicinais da Itaipu abrange estratégias de popularização dos fitoterápicos, como a realização de cursos e seminários voltados a agentes de saúde e à população em geral.
Postos de saúde
Hoje, 10 postos de saúde do SUS e dois hospitais de Foz do Iguaçu receitam regularmente tratamentos a base de 25 plantas medicinais, como espinheira santa, guaco, alcachofra e outras que estão ligadas às doenças mais comuns da população. Outros municípios da região Oeste do Paraná também adotaram essa prática: Vera Cruz do Oeste, Missal, Toledo, Medianeira e Mundo Novo. Para se ter uma ideia, a produção de um hectare é suficiente para atender a dez postos de saúde do SUS com plantas medicinais em rasura.
Nessa linha de atuação, na última semana, foi realizado o 9º Seminário Regional de Plantas Medicinais, em Pato Bragado. Na ocasião, foi apresentada a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Também foi feita uma avaliação dos resultados do projeto plantas medicinais da Itaipu e foram apresentados casos de sucesso na adoção de fitoterápicos na saúde individual e pública. Entre os palestrantes estavam o especialista em Nutrologia, o médico Mauro Fernando Cardoso Lins, o doutor Celerino Carriconde, do Centro Nordestino de Medicina Popular e o dr. Roberto Leal Boorhem, do Instituto Brasileiro de Plantas Medicinais.
Fonte: Maxpress