"Ele é um pai para mim, porque foi quem me devolveu a vida". É assim que a estudante de Administração Lorenza Roberta Mello, hoje com 20 anos, define José Adilson Sabino, 43. Há cinco anos, a então adolescente de Peabiru (a 15 km de Campo Mourão) recebeu a medula óssea do metalúrgico, que se cadastrou como voluntário em um Hemocentro. O primeiro encontro entre ambos aconteceu nesta sexta-feira (23), no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), na capital paranaense.
Diagnosticada com Anemia Aplástica Severa (AAS), doença caracterizada pela insuficiência de glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas no sangue, a jovem tinha em 2008 um prognóstico de apenas seis meses de vida, caso não encontrasse um doador. Segundo o hematologista Samir Kanaan Nabhan, da equipe responsável pelo transplante, a probabilidade era baixa, de uma para cada 100 mil pessoas.
"Nenhum paciente recebe essa indicação (de transplante de medula óssea) se tiver uma alternativa de menor risco com o mesmo benefício. No caso da Lorenza, só o tratamento com as medicações não era suficiente. A doença não é tão rara, mas é muito grave", contou Nabhan. "Dentro da família, a probabilidade já é pequena. E quando a gente sai do núcleo familiar é ainda menor. Foi uma sorte muito grande", completou, se referindo à medula de Sabino, 100% compatível.
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Acompanhada da mãe, Margarete Rodrigues Mello, da avó e da irmã, além de primos e tios, a estudante percorreu mais de 480 km até chegar a Curitiba. Tudo para realizar o sonho de conhecer o doador. O encontro também foi presenciado por psicólogos e integrantes da equipe médica do HC. "Não era só ela que queria e esperava (o transplante), mas todos nós, porque a gente vive tudo junto; sofre junto, fica imaginando se vai haver alguém disponível. Então ficamos super ansiosos e contentes de saber que uma pessoa que não é parente, nem conhecida, se dispôs. Não dá nem para explicar a emoção e o nervosismo. Só tenho a agradecer", disse Margarete.
Ela lembrou que, desde a realização do transplante, as famílias de Lorenza e José Adilson Sabino chegaram a se corresponder, porém, de forma anônima. "Mandávamos as cartas, mas por causa do sigilo médico não podíamos nos identificar", explicou.
Para o metalúrgico, morador de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), o momento também foi de emoção. "Não acreditava mais que esse encontro fosse acontecer, depois de cinco anos. Estou nervoso. Já tive pessoas conhecidas que precisavam de transplante de medula e não pude ajudá-las. Então é muito bom saber que a Lorenza eu pude", afirmou.