O comprometimento da visão gera grande impacto na qualidade de vida das pessoas, bem como no aspecto socioeconômico de diversos países – ressaltando que 89% das pessoas com comprometimento moderado a severo da visão habitem países de baixa e média renda. Além de privar a pessoa de autonomia e bem-estar, a perda da visão e as quatro principais doenças oculares (catarata, glaucoma, retinopatia diabética e degeneração macular relacionada à idade) são responsáveis por 123 milhões de dias perdidos de trabalho anualmente em onze países que integram o EFAB (European Forum Against Blindness) – formado por França, Alemanha, Reino Unido, Dinamarca, Itália, Irlanda, Polônia, Eslováquia, Espanha, Suécia e Suíça.
Na opinião do professor Ian Banks, coordenador do fórum, ações preventivas e intervenções precoces são medidas fundamentais para mudar esse quadro preocupante. "Exemplo disso são as triagens para retinopatia diabética e glaucoma, seguidas de tratamento", diz o especialista – que acredita que esse tipo de iniciativa proporciona melhor saúde ocular para a população e ainda reduz os custos derivados da perda total da visão. Nos onze países do grupo, há mais de 860 mil pessoas cegas, quase 30 milhões de portadores de catarata, 3,6 milhões de pessoas com retinopatia diabética, 4,4 milhões com glaucoma e outros dois milhões com degeneração macular relacionada à idade. "Uma em cada dez pessoas tem pelo menos uma dessas quatro doenças oculares. Por isso, o custo-benefício de se investir em prevenção e tratamentos conservadores pode representar muito em termos de cortar custos na ponta".
De acordo com Renato Neves, oftalmologista e diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos, em São Paulo, muitas dessas doenças não vão dar sinais até que a pessoa já tenha passado dos 40 ou 50 anos – e até mesmo depois. Mas isso não quer dizer que a pessoa não se beneficie se desde muito cedo mantiver uma rotina anual de consultas com um oftalmologista. "Grande parte das doenças relacionadas à perda gradual da visão passa despercebida por vários anos, já que seus sinais são praticamente imperceptíveis. Entretanto, quando diagnosticadas em estado avançado, essas doenças têm impacto relevante sobre a qualidade de vida do paciente e exigem tratamentos desgastantes e custosos. Assim sendo, quanto mais cedo o oftalmologista puder detectar e tratar a doença, maiores serão as chances de preservar a visão sem grandes esforços".
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Neves afirma que rastrear o histórico de saúde ocular de determinadas famílias pode ser a chave para prevenir a perda de visão no futuro. "Algumas doenças têm um componente hereditário bastante relevante. Famílias que têm casos de DMRI (degeneração macular relacionada à idade), por exemplo, aumentam em 50% as chances de seus membros desenvolverem a doença. No caso do glaucoma, estudos indicam que há uma propensão entre quatro e nove vezes maior quando há um ou mais casos entre os parentes diretos. A dica, então, é começar a prestar bastante atenção em como seus parentes enxergam e relatar ao oftalmologista tudo o que for relevante: se há casos de diabetes, glaucoma, catarata, DMRI, infecções oculares recorrentes entre seus pais, tios e avós".
Um exame mais detalhado com os olhos dilatados – que é rápido e não provoca dor – pode contribuir para que o médico oftalmologista tenha mais chances de procurar por esses problemas que não costumam se ‘mostrar’ antes que estejam devidamente instalados e provocando estragos na visão. "A partir desse exame inicial, há todo um protocolo de exames e testes a ser seguido. Além do histórico familiar, é importante saber se há outros fatores de risco para doenças da visão, como idade, raça, sexo, doenças crônicas etc. Só para se ter uma ideia, mais de 60% das pessoas com perda de visão são mulheres. Já os idosos afrodescendentes têm até cinco vezes mais chances de desenvolver glaucoma. Isso mostra que a perda da visão pode ser rastreada e prevenida muito antes de comprometer a qualidade de vida e a autonomia das pessoas", afirma o especialista.