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Estudo identifica

MicroRNA pode favorecer migração de tumores

Redação Bonde /Fapesp
10 nov 2014 às 13:40

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- Reprodução / Fapesp
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Pesquisadores brasileiros identificaram um microRNA que parece favorecer processos de migração e invasão tumoral nos casos de câncer de tireoide do tipo carcinoma papilífero. A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de novas terapias e de testes que permitam avaliar com maior precisão o prognóstico de pacientes.

O estudo é realizado no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) com apoio da FAPESP.

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"Observamos em estudos in vitro que, quando a expressão do microRNA-146b aumenta, as células tumorais apresentam maior capacidade de migração. Já quando a expressão desse microRNA é inibida, as células parecem ter mais dificuldade para sair do lugar", disse a professora Marinilce Fagundes dos Santos, do ICB-USP, pesquisadora responsável pelo projeto.

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A pesquisadora apresentou dados preliminares da pesquisa na 29ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), realizada em agosto em Caxambu (MG).

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Como o nome sugere, os microRNAs são pequenos pedaços de RNA que, embora não contenham informações para a produção de proteínas, têm um importante papel regulatório no genoma, explicou a pesquisadora.


"O RNA mensageiro é produzido no núcleo celular e segue para o citoplasma onde vai transcrever a proteína. Antes disso, porém, ele passa por um processo de edição, no qual alguns trechos são retirados. Esses trechos cortados dão origem aos microRNAs", disse.

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Durante muito tempo, os cientistas acreditaram que essas "sobras" de RNA não passavam de lixo celular, mas estudos conduzidos nos anos 1990 mostraram que elas são capazes de se ligar a diferentes RNAs mensageiros podendo, por exemplo, interromper o processo de transcrição de uma proteína. A expressão alterada de um único microRNA, portanto, pode em alguns casos ser o suficiente para mudar o comportamento celular.


"Existe uma estimativa de que 50% do genoma seja regulado por meio de microRNAs", afirmou Santos. Estudos anteriores que compararam a expressão gênica em tecido normal de tireoide e em amostras de carcinoma papilífero revelaram que a expressão do microRNA-146b costuma estar aumentada nos casos malignos. O objetivo da pesquisa coordenada por Santos é desvendar quais processos celulares estariam sendo afetados por esse microRNA.

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Para isso, o grupo do ICB usou como modelo de estudo duas linhagens comerciais de carcinoma papilífero de tireoide que superexpressam o microRNA-146b – uma delas com mutação no gene RET e, a outra, no gene BRAF.


Para avaliar in vitro a capacidade de migração das células, foi usado um sistema composto por duas câmeras – uma colocada em cima da outra, com um filtro no meio. As células foram colocadas na câmara superior e, na inferior foi colocada uma alta concentração de soro.

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Em situação controle, 100% das células migram para a câmara debaixo atraídas pelo soro. Mas, quando a expressão do microRNA-146b foi inibida nas duas linhagens de carcinoma papilífero, os cientistas observaram que apenas 40% das células completaram o processo de migração em um período de 24 horas – ou seja, houve uma redução de 60% na capacidade de migração celular.


Por um método conhecido como time lapse, no qual uma sequência de fotografias é tirada com intervalos predeterminados, o grupo registrou o comportamento das células tumorais ao longo do período de estudo. Foram avaliadas a distância percorrida por cada célula, a velocidade de migração e se o movimento era feito em linha reta ou de maneira irregular.

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"Observamos que, ao inibir o microRNA-146b, a célula perde a direcionalidade. É como se as pernas sem conseguir sair do lugar", contou Santos.


O mesmo experimento foi feito com células normais de tireoide, nas quais os pesquisadores aumentaram artificialmente a expressão do microRNA-146b. Nesse caso, ocorreu o efeito contrário. O número de células capazes de migrar para a câmara inferior aumentou em mais de 100% no período estudado.

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Um terceiro ensaio semelhante foi feito com as duas linhagens tumorais para avaliar a capacidade das células de invadir outro tecido. Nesse caso, foi colocado sobre o filtro que separa as duas câmaras uma substância conhecida como matrigel, composto por moléculas como colágeno e laminina para imitar a matriz extracelular.


"Para a célula tumoral conseguir invadir um novo tecido, ela precisa primeiro degradar a lâmina basal, que é simulada no experimento pelo matrigel. Ao inibir o microRNA-146b, observamos que a migração das células para a câmara inferior foi reduzida em 60%. Ou seja, o efeito com e sem o matrigel foi idêntico", disse Santos.


De acordo com a pesquisadora, esse resultado sugere que a capacidade de degradação da lâmina basal não está sendo afetada pela superexpressão do microRNA-146b. "Nossa hipótese, portanto, é que esse microRNA esteja de alguma forma regulando o citoesqueleto – estrutura composta por fibras da proteína actina com a função de dar forma e movimento à célula", disse Santos.


Marcador de prognóstico


Na avaliação da pesquisadora do ICB-USP, os resultados dos três experimentos sugerem que a presença de um nível elevado do microRNA-146b poderia ser um marcador de mau prognóstico para portadores de carcinoma papilífero de tireoide.


"Esse tipo de câncer não costuma ser muito agressivo, mas, em 40% dos casos, ele se comporta mal. As células começam a migrar e a invadir tecidos vizinhos, aumentando o risco de metástase. Pretendemos verificar se seria possível medir o nível desse microRNA no sangue dos pacientes e avaliar se, de fato, a superexpressão estaria relacionada a um pior prognóstico", contou Santos.

Os pesquisadores também pretendem detalhar em novos estudos os mecanismos pelos quais o microRNA atua e descobrir quais são as proteínas afetadas por ele. Segundo Santos, esse conhecimento poderia abrir caminho para o desenvolvimento de terapias capazes de modular a expressão do microRNA-146b e dificultar os processos de migração tumoral.


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