Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha sido cautelosa em estabelecer a relação entre o zika vírus e o surto de microcefalia, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, disse na segunda-feira, 1º, que, para o governo, já há evidências suficientes dessa ligação. "Epidemiologicamente, e fazendo a conexão biologicamente, não há a menor dúvida de que é a zika que está causando a epidemia de microcefalia no Brasil", afirmou ele no programa Roda Viva, da TV Cultura, após citar exames feitos em fetos e bebês do Nordeste que detectaram a presença do vírus.
Castro afirmou ainda que a prioridade do ministério é a busca da vacina contra o zika. "Estamos fazendo várias parcerias. Vou falar amanhã com a secretária de Saúde dos Estados Unidos. E o Pedro Vasconcelos (pesquisador do Instituto Evandro Chagas) está na Universidade do Texas, o maior centro de pesquisas em vacina contra arboviroses", afirmou.
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Outros participantes do programa ponderaram que, embora as evidências sejam fortes, são necessárias mais pesquisas para a comprovação científica. "Uma associação observada não significa necessariamente causa e efeito. Precisamos de provas formais. Precisamos ver como o zika vírus migra para as células onde se forma o cérebro. Os cientistas precisam estudar a história natural da doença", disse Jorge Kalil, diretor do Instituto Butantã, que atualmente desenvolve uma vacina contra a dengue.
Conforme o boletim mais recente, são investigados 3.448 relatos suspeitos de microcefalia e o País já confirmou 270 casos da má-formação. "A primeira vez que se informou o ministério foi em 22 de outubro. No dia 26, os técnicos já estavam lá. Depois, declaramos problema de saúde publica", ressaltou o ministro. "No dia 29 de novembro, laboratórios de excelência declararam microcefalia decorrente de zika. Foi identificado o vírus no líquido amniótico e na placenta", ressaltou.
A posição brasileira foi levada na segunda-feira à Organização Mundial de Saúde por Pedro Vasconcelos. "Ele identificou uma proteína no líquido de uma criança com microcefalia, que mostra essa relação. Todo esse conjunto, mais o relato das pessoas que tiveram zika e depois a criança (nos levam à relação)", afirmou Castro.
O ministro ainda afirmou que o País saltou de um registro anual de 150 casos de microcefalia para mais de 3 mil. Isso após um surto de zika no Nordeste, justamente no fim do verão.
Também presente ao debate, o secretário estadual da Saúde de São Paulo, David Uip, ressaltou que, como a microcefalia não era de notificação obrigatória antes de novembro, muitos casos registrados agora não necessariamente têm relação com o zika. "No Estado de São Paulo, tivemos 126 registros desde novembro, mas fazendo a investigação com as gestantes temos só 21 casos com suspeita de ligação com o zika vírus. Como estamos buscando mais casos, estamos achando mais", disse.
Prédios públicos
O ministro afirmou ainda que a presidente Dilma Rousseff orientou todos os ministros, em reunião na noite de segunda em Brasília, a focar o trabalho de combate aos criadouros também nos prédios públicos. "Ela não quer ver focos do mosquito nos prédios do governo. Temos de dar o exemplo", disse ele, no intervalo do programa.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.