Mais da metade da população rural no mundo - mais do que o dobro do número observado em áreas urbanas - não tem acesso a serviços de saúde, revela relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado hoje (27).
"Os resultados são chocantes", disse a coordenadora da política de saúde na OIT, Xenia Scheil-Adlung, durante a apresentação do relatório, que cobre 174 países. "A ausência de cobertura legal, número insuficiente de profissionais de saúde e o financiamento inadequado criaram desigualdades que podem colocar vidas em perigo", afirmou ela.
O relatório é o primeiro de gênero a ser publicado pela OIT e revela grandes disparidades no acesso aos cuidados de saúde entre as áreas rurais e urbanas em todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento.
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O documento mostra que 56% das pessoas que vivem nas áreas rurais estão excluídas dos cuidados essenciais de saúde, contra 22% das que residem em áreas urbanas.
No continente africano, 83% dos que vivem nas zonas rurais nunca tiveram acesso aos serviços básicos de saúde, de acordo com o estudo da OIT, que assinala que na África existem os mais altos níveis de pobreza.
As maiores diferenças entre as zonas urbanas e rurais, no entanto, são vistas igualmente na Ásia, como na Indonésia, onde a porcentagem de pessoas não abrangidas por estes serviços é duas vezes maior nas áreas rurais do que nas cidades, destaca a agência da Organização das Nações Unidas (ONU). Na Europa, as pessoas que residem em áreas rurais com menos acesso aos cuidados de saúde encontram-se na Itália, Grécia, Andorra e Chipre, acrescenta.
O estudo da OIT mostra que, embora o acesso à saúde seja garantido por lei em muitos países, as pessoas em áreas rurais muitas vezes são excluídas da assistência à saúde, porque a lei não é aplicada nestas regiões. Esta situação é agravada pela falta de profissionais de saúde que atinge o mundo rural, pois, apesar de metade da população mundial viver naquelas áreas, apenas 23% do pessoal de saúde trabalha lá.
A OIT estima que, em nível mundial, 10,3 milhões de trabalhadores estão sem assistência no setor da saúde. A OIT assinala que a África e América Latina são as duas regiões do mundo onde a falta de profissionais de saúde é maior.
Como exemplo, a agência da ONU aponta a Nigéria, onde mais de 82% da população rural é excluída de serviços de saúde devido ao número insuficiente de profissionais, contra 37% dos que vivem nas cidades daquele país africano, o mais populoso de África, com 176 milhões de habitantes.