A osteoporose atinge cerca de 10 milhões de pessoas no Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (ABRASSO). As principais vítimas (uma a cada três) são as mulheres, com idade entre 60 e 70 anos.
A osteoporose não é um problema para a odontologia de maneira geral, porém neste artigo abordarei especificamente os perigos que as medicações mais usadas para controle de osteoporose e osteopenia podem gerar nos tratamentos odontológicos. De forma simplificada, a osteoporose é uma doença de redução do volume, densidade e massa óssea, que nos acomete quando as células chamadas osteoclastos removem mais tecido ósseo que os osteoblastos (formadores de osso) conseguem repor, assim perde-se mais do que é formado, tornando-os mais frágeis.
Não entrarei em detalhes sobre as possíveis causas de osteoporose, mas abordarei uma das principais formas de tratamento utilizadas pela medicina na atualidade, que é através de um grupo de medicamentos chamados bisfosfonatos. Você pode reconhecer essas medicações através de diversos nomes como alendronato, risedronato, ácido zoledrônico, ibandronato e por muitas vezes eles são relatados aos dentistas como "vitaminas que são tomadas uma vez por semana, não podendo comer e nem deitar em até meia hora depois de tomá-la". O fato é que essas medicações agem diminuindo as células que removem o osso, os osteoclastos, sendo eles essenciais para liberação de fatores de crescimento, remodelação óssea e formação de vasos sanguíneos, ou seja, são fundamentais para a cicatrização óssea.
Leia mais:
Brasil registra mais de 11 mil partos resultantes de violência sexual, diz pesquisa
Sesa reforça gratuidade dos serviços ofertados pelo SUS
Nísia Trindade descumpre promessa de disponibilizar medicamentos de câncer de mama no SUS
Estudo mostra correlação entre perda de músculo e maior risco de demência
E onde entram os riscos? Essas medicações fazem com que os ossos fiquem sem remodelação, ou seja, sem a capacidade de cicatrizarem-se de forma eficiente e, na odontologia, inúmeros tratamentos dependem dessa cicatrização óssea como a extração de um dente, cirurgias de implantes dentários, enxertos ósseos etc. Pessoas que usam bisfosfonatos possuem um risco aumentado de sofrerem de uma enfermidade grave, chamada de "osteonecrose induzida por bisfosfonatos", consistindo na infecção e necrose do osso que é extremamente difícil de ser tratada - já que a redução na capacidade de cicatrização óssea diminui a capacidade do organismo em combater a infecção e regenerar a região.
Com o aumento da prescrição de bisfosfonatos – inclusive para tratamentos de problemas ósseos mais leves – os problemas relacionados a eles têm aumentado consideravelmente na última década, com diversos relatos de osteonecrose em cirurgias de extrações e implantes dentários. Isso tem preocupado a comunidade odontológica como um todo.
O procedimento adotado pelo cirurgião dentista é, acima de tudo, avaliar as condições do paciente, tempo de uso e tipo de bisfosfonato que é utilizado. Dentro dessa avaliação, o cirurgião dentista poderá entrar em contato com o médico responsável pela indicação do tratamento da osteoporose, a fim de planejar a possível interrupção do mesmo por no mínimo 6 meses. Aliado a isso, realizar acompanhamento constante, por meio de exames específicos, que deverão ser repetidos até que se encontre uma condição com menos risco cirúrgico.
É importante salientar que essa medicação se mantém em tecido ósseo por até 8 anos após a interrupção e, dependendo da quantidade e do tipo de medicamento tomado, os riscos para o surgimento de um problema poderão levar uma década ou mais para serem eliminados. Sendo assim, em casos de extrações de urgência nos quais a interrupção prévia do medicamento não pode ser realizada, o risco do surgimento de osteonecrose no paciente pode aumentar seriamente.
O cirurgião pode empregar medidas preventivas a fim de diminuir esse risco. Em relação ao sucesso cirúrgico na implantodontia, é importante que o paciente tenha controle da própria saúde como um todo, pois, fatores como diabetes sem controle, problemas gengivais presentes, deficiência de vitamina D e outros, também podem contribuir para a perda precoce dos implantes. A higienização oral completa, realizada de forma criteriosa com escovação e fio dental, além de visitas periódicas ao dentista, diminui o risco de problemas orais de forma significativa - sendo a melhor maneira de reduzir a necessidade de tratamentos invasivos odontológicos.
Vale lembrar que, durante as consultas odontológicas, é extremamente importante não ocultar o uso de nenhuma medicação, mesmo que você as veja apenas como suplementações alimentares ou vitaminas, como é o caso dos bifosfonatos.