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'Ridículo', 'pode matar'; especialistas refutam injeções de desinfetante sugeridas por Trump

Lucas Alonso - Folhapress
24 abr 2020 às 10:51
- Reprodução/Pixabay
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A sugestão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que injeções de desinfetante podem ser usadas como tratamento para o novo coronavírus foi recebida com espanto por autoridades e especialistas da área da saúde.

"E aí eu vejo o desinfetante, que derruba [o coronavírus] em um minuto. Um minuto! E pode existir uma maneira de fazer algo desse tipo por dentro, com uma injeção, ou quase como uma limpeza. Porque, veja bem, ele entra nos pulmões e faz um trabalho tremendo nos pulmões, então seria interessante checar isso. Então, será preciso ver com os médicos, mas soa interessante para mim", disse Trump, durante entrevista coletiva na Casa Branca, nesta quinta-feira (23).

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Mesmo afirmando que não é médico, o presidente também fez alusão a um possível tratamento utilizando radiação ultravioleta contra a Covid-19. "Talvez seja possível, talvez não seja. Eu não sou médico. Mas eu sou, tipo, uma pessoa que tem um bom você sabe o quê", disse.

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Não há evidências científicas que sustentem as sugestões do presidente americano.

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Especialistas e autoridades médicas, muitas das quais estão na linha de frente do combate à pandemia, firmaram posição contra as teorias de Trump.


John Balmes, pneumologista do Hospital Geral Zuckerberg de São Francisco, disse, em entrevista à Bloomberg News, que mesmo a inalação de desinfetantes pode causar sérios problemas de saúde. "Nem mesmo uma baixa diluição de água sanitária ou álcool isopropílico é segura. É um conceito totalmente ridículo."

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À NBC o pneumologista Vin Gupta disse que a injeção ou ingestão de qualquer tipo de produto de limpeza é irresponsável e perigosa. "É um método comum que as pessoas utilizam quando querem se matar".


Bryan William Jones, neurocientista e professor da Universidade de Utah, também comentou a sugestão de tratamento com raios ultravioleta.

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"O tipo de radiação UV necessária dentro e fora do corpo para efetivamente matar um vírus faria o mesmo que que a radiação atômica faz ao corpo humano. Seria uma morte horrível", escreveu Jones no Twitter.


Stephen Hahn, comissário do FDA, agência de vigilância sanitária americana, disse em entrevista à emissora americana CNN que "certamente não recomendaria a ingestão de desinfetante".

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As declarações de Trump foram dadas logo depois de uma apresentação do subsecretário interino de ciência e tecnologia do Departamento de Segurança Interna dos EUA, William Bryan.


Ele mostrou slides resumindo os resultados de um experimento que concluiu que o coronavírus é menos perigoso em ambientes mais quentes e úmidos. O estudo também analisou o efeito dos desinfetantes.

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"Posso dizer que o alvejante matará o vírus em cinco minutos. O álcool isopropílico mata o vírus em 30 segundos e isso é sem manipulação, sem atrito", disse Bryan.


Os resultados apresentados por Bryan, que não sugeriu a ingestão do produto, também foram refutados por especialistas.
Irwin Redlener, diretor do Centro de Preparação para Desastres da Universidade de Columbia, disse que tudo que foi apresentado durante a entrevista coletiva é "incoerente, sem sentido e não baseado em evidências".

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"O fato de o presidente realmente perguntar a alguém sobre injetar desinfetantes ou álcool isopropílico no corpo humano foi meio que de cair o queixo", acrescentou Redlener em entrevista à emissora MSNBC.


Enquanto falava sobre suas teorias na Casa Branca, Trump olhava para a médica Deborah Birx, coordenadora da força-tarefa do governo contra o coronavírus. Ela ouviu o presidente com uma expressão de estranhamento, que viralizou nas redes sociais.


Quando foi diretamente questionada por Trump sobre a possibilidade de usar luz e calor contra a Covid-19, Birx respondeu: "Não como um tratamento".


As entrevistas diárias na Casa Branca são a principal fonte de informação para milhões de americanos sobre a resposta do governo à pandemia. Os EUA são, hoje, o país mais afetado pelo coronavírus, com mais de 869 mil casos confirmados e quase 50 mil mortes.


Sobre os briefings diários, Robert Reich, professor de políticas públicas da Universidade da Califórnia, escreveu no Twitter que eles estão "colocando a saúde pública em perigo".


"Boicotem a propaganda. Ouçam os especialistas. E, por favor, não bebam desinfetante", diz a publicação.


Walter Shaub, ex-diretor do Gabinete de Ética do Governo dos EUA, também se manifestou.


"É incompreensível para mim que um imbecil como esse ocupe o cargo mais alto do país e que existam pessoas estúpidas o suficiente para pensar que isso é bom. Não acredito que, em 2020, tenho que avisar quem estiver ouvindo o presidente que a injeção de desinfetante pode matar".


O democrata Joe Biden, que deve enfrentar Trump nas eleições americanas em novembro, tuitou: "Luz UV? Injeção de desinfetante? Aqui está uma ideia, Sr. Presidente: mais testes. Agora. E equipamentos de proteção para os profissionais médicos de verdade."


Não é a primeira vez que Trump ignora evidências científicas na pandemia da Covid-19.


O presidente tem promovido a utilização da hidroxicloroquina, medicamento usado no tratamento da malária e outras doenças, mas não há estudos suficientes para confirmar sua eficácia contra o novo coronavírus.


Nesta semana, o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid, na sigla em inglês), dos EUA, contraindicou o uso do medicamento para tratar a Covid-19.


Dara Kass, professora de medicina de emergência no Centro Médico da Universidade de Columbia alertou, em entrevista ao jornal Washington Post, sobre os riscos da sugestão de Trump, comparando-a ao apoio prévio do presidente ao uso da hidroxicloroquina.


"A diferença entre isso [ingestão de desinfetante] e a cloroquina é que alguém pode ir imediatamente para a despensa e começar a ingerir água sanitária. Eles poderiam ir ao seu armário de remédios e engolir álcool isopropílico ", disse Kass. "Muitas pessoas têm isso em suas casas. Existe uma oportunidade imediata de reagir. "


Segundo Kass, departamentos de emergência nos EUA provavelmente terão casos e ingestão de desinfetantes depois das declarações do presidente.


"Sabemos disso porque as pessoas estão com medo e vulneráveis, e não vão achar que é perigoso porque podem ter esses em casa."


O grupo Reckitt Benckiser, um dos maiores fabricantes mundiais de produtos de limpeza, divulgou uma nota pedindo que as pessoas respeitem as diretrizes de uso.

"Devemos deixar claro que, sob nenhuma circunstância, nossos produtos desinfetantes devem ser administrados ao corpo humano (por injeção, ingestão ou qualquer outra via). Por favor, leia o rótulo e as informações de segurança."


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