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Um dia após anúncio de vacina, Rússia altera dados sobre testes em base internacional

Estêvão Gamba e Sabine Righeti - Folhapress
13 ago 2020 às 09:04
- Reprodução/Pixabay
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As informações oficiais sobre os testes da vacina contra Covid-19 da Rússia, batizada de Sputnik V, foram modificadas na base internacional que registra experimentos com humanos nesta quarta (12) - um dia após a divulgação da aprovação regulatória do imunizante no país.


Quando a vacina russa foi anunciada, constava publicamente o registro de apenas uma primeira fase de testes iniciados em 17 de junho, com 38 pessoas, ainda em andamento -o que levantou críticas de cientistas de todo o mundo.

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Nesta quarta (12), as informações sobre os experimentos com humanos da vacina da Rússia passaram a incluir também uma segunda fase, concomitante à primeira. Agora, consta que os estudos foram finalizados no dia 3 de agosto, mas não há informação sobre conclusões dos testes.

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Na prática, a validação de vacinas envolve três fases: as duas primeiras avaliam a segurança do princípio ativo, e a última testa a efetividade vacinal e a manutenção da resposta imune nas pessoas que integram o experimento. Até a conclusão desta reportagem, não havia registro de uma terceira etapa de testes da vacina da Rússia.

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Os dados estão na plataforma internacional Clinical Trials, que agrega informações detalhadas sobre experimentos com humanos no mundo todo (como local, quantas pessoas são pesquisadas, duração do experimento e metodologia aplicada).


Faz parte da metodologia científica a publicação de informações sobre cada etapa dos testes de vacinas na Clinical Trials, assim como a divulgação dos resultados nas diferentes fases do experimento – coisa que a Rússia não fez.

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"Se havia informação sobre uma nova fase de pesquisa clínica, isso já estava disponível quando o governo russo fez o anúncio da vacina. Por que tornaram público somente agora?", questiona a microbiologista e pesquisadora da USP Natália Pasternak.


"E, se estão afirmando que finalizaram duas fases dos testes, cadê os resultados?" Na prática, não se sabe o que aconteceu com as 38 pessoas que teriam participado dos testes com a Sputnik V.

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Os experimentos russos estão em nome do Instituto Gamaleya, ligado ao Ministério de Saúde daquele país. É uma espécie de Fiocruz da Rússia. Os testes não seguem, de acordo com o registro, a metodologia duplo-cego, na qual nem médicos nem pacientes sabem o que estão fornecendo ou recebendo, se o produto em teste ou um placebo. É o "padrão ouro" nas pesquisas clínicas.


O que se sabe é que os cientistas russos trabalham com adenovírus, que causam gripes em chimpanzés e humanos, como vetores para "carregar" proteínas do Sars-CoV-2 para as células humanas -o que estimula a produção de anticorpos contra o novo coronavírus. Não há nenhuma imunização no calendário vacinal com essa nova tecnologia.

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A proposta é a mesma em teste pela Universidade de Oxford (Reino Unido) -uma das apostas da ciência mundial contra a Covid-19. As pesquisas estão em fase 3. "Essa etapa de avaliação da imunização e da manutenção da resposta imune pode levar alguns meses", ressalta Mellanie Fontes-Dutra, pesquisadora da UFRGS. Só depois de concluída essa etapa dá para saber se a vacina, de fato, funcionou.


Desde o início da pandemia, a Rússia soma 39 registros de pesquisas com humanos na Clinical Trials. São 20 drogas contra Covid-19 em teste com pacientes (inclusive em colaboração internacional com países como EUA, Itália e Brasil), 8 testes de novos diagnósticos, 10 procedimentos médicos e 1 vacina -a Sputnik V.

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O número é pouco expressivo. O Brasil tem quase o dobro de testes clínicos registrados relacionadas ao novo coronavírus (76 até agora). Os Estados Unidos, que lideram em número absoluto as pesquisas sobre Covid-19 no mundo, já somam mais de 600 testes com pessoas. Um deles é do laboratório Moderna -que, no mesmo dia do anúncio da Sputnik V, anunciou a venda de 100 milhões de doses ao governo norte-americano (mesmo ainda sem resultados conclusivos).


França, Itália, Espanha, Reino Unido, China e Egito também estão entre os países com mais de uma centena de registros de experimentos de drogas e vacinas para Covid-19 envolvendo humanos.

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As instituições de pesquisa da Rússia somam 175 artigos artigos científicos sobre Covid-19 -o que corresponde a menos de 1% de todo conhecimento científico no contexto da pandemia. Isso coloca os russos em 35º lugar no ranking de publicações sobre Covid-19, atrás de países de pouca tradição em pesquisa como o Paquistão (28º lugar). As informações são da plataforma internacional de periódicos científicos Web of Science.


Para termos de comparação, os cientistas do Brasil já contam 700 artigos científicos sobre o novo coronavírus (quase 3% da produção mundial), ocupando 11º lugar no ranking mundial de publicações sobre Covid-19. Quem lidera a lista são os Estados Unidos, seguidos pela China e pela Itália.

Em termos de expertise científica acumulada sobre imunização, a Rússia também patina. Nos últimos dez anos, o país contabilizou cerca de mil trabalhos científicos publicados sobre vacinas em geral -um quarto do total produzido pelo Brasil no mesmo período. Novamente, quem lidera essa produção são os Estados Unidos, com a vantagem competitiva de mais de 50 mil trabalhos acadêmicos sobre vacinas na última década.


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