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Sintomas, diagnósticos e tratamento do bruxismo

19 abr 2017 às 15:56

Bem diferente do que muitas pessoas pensam, o bruxismo é um dos distúrbios do sono, do qual os dentes são mais vítimas do que exatamente os causadores do problema. O especialista em cirurgia buco-maxilo-facial pelo Hospital Federal de Bonsucesso, Bruno Chagas revela aspectos importantes para lidar com o problema.

Noite mal dormida, tensão nos músculos da mastigação e para piorar, uma dor de cabeça forte, e muitas vezes insuportável pela manhã ao acordar. Arcadas dentarias irregulares, mordidas cruzadas, transtornos de ansiedade e práticas de esportes de alto rendimento estão entre as causas. Esses são alguns dos desconfortos – causados pelo ranger involuntário dos dentes de madrugada – com que os portadores de bruxismo do sono têm que conviver. "Ao contrário do que a maioria pensa, os dentes são reféns, são vítimas, desse distúrbio do sono, chamado bruxismo. É como o ronco e a apneia. É importante saber que os dentes não são sempre os causadores do problema", esclarece o especialista.


"Para se ter uma ideia, o ranger dos dentes é a última coisa que acontece nesse processo. Tudo começa com uma superativação do sistema nervoso central, que aumenta a atividade alfa do cérebro, por consequência eleva a frequência cardíaca, que estimula a musculatura mastigatória e por fim reflete no ranger involuntário dos dentes", explica Chagas, ao descrever as etapas do distúrbio, na prática.


Não se pode afirmar que há um perfil típico dos portadores de bruxismo, já que a relação de causa e consequência do comportamento humano nesse sentido implica em diversas possibilidades, inclusive pessoas que são hipertensas e que têm outras disfunções do sono, como a síndrome das pernas inquietas (hábito de manter o movimento dos membros mesmo dormindo), por exemplo. Mas, uma coisa é certa, pode-se afirmar que aqueles que sofrem de ansiedade e estresse geralmente lideram o "tipo mais comum" na lista dos pacientes. "Geralmente os portadores são adultos tensos, hiperativos, agressivos e com personalidade compulsiva", descreve Bruno. Posto isso, se torna mais fácil entender porque não conseguem ter uma boa qualidade de sono.


De um modo geral, é comum as pessoas falarem de bruxismo com certa simplicidade, como se o único problema fosse o desconforto do ranger dos dentes durante a noite – o que já não é pouco, pois resulta em trincas e desgaste severo dos dentes. Sim, esse é, sem dúvida, um dos principais sintomas, porém, as consequências vão muito além desse sinal noturno. "As regiões da cabeça e pescoço são muito prejudicadas. Podem ocorrer dores intensas musculares e na articulação da mandíbula, sonolência, fadiga e cansaço durante todo o dia, além da perda progressiva dos ossos que sustentam os dentes, o que é grave", explica o cirurgião. "Nos casos mais severos, há um travamento mandibular, que impede o movimento da mandíbula. Essa sensação paralisante é muito desagradável".


Dentre os sintomas mais graves está a dor tensional na musculatura do crânio, que provoca a cefaleia tensional, proveniente dessa pressão pericraniana e uma dor muito forte e aguda na região das têmporas. Para completar o arsenal de danos, existe ainda a possibilidade iminente de cortes nos lábios, língua e mucosa das bochechas. Contudo, ironicamente, há estudos que mensuram que cerca de 40% dos portadores de bruxismo do sono não apresentam sintomas. "Cada paciente tem seu limiar de estresse, assim como sua capacidade de suportar a dor, sendo que muitas vezes esse limite não foi atingido ou associado a outros fatores para gerar o bruxismo que é multifatorial, isto é, envolve causas de diversas naturezas", diz o especialista.


Os sintomas são, sem dúvida alguma, a principal ferramenta de diagnóstico. Mas é preciso averiguar para saber se há outro fator agregado às causas e assim fazer uma identificação precisa do que está ocorrendo. "Hoje em dia é quase indispensável fazer uma polissonografia para saber mais sobre a intensidade do bruxismo do sono. Até algum tempo atrás, esse exame, que é feito com o paciente dormindo, era usado apenas para analisar o ronco e apneia", lembra Chagas, ao destacar que essa avaliação permite a realização de testes de diversos parâmetros do corpo durante o sono. "São analisados fatores como os potenciais elétricos da atividade cerebral, os batimentos cardíacos, o esforço respiratório, a saturação de oxigênio no sangue e a atividade muscular craniofacial. Juntos, esses elementos ajudam a identificar o problema", justifica.


Antes de tudo é bom deixar claro que, por ser considerado um distúrbio crônico persistente, o bruxismo não tem cura. Sendo assim, os especialistas ao tratarem os pacientes, utilizam técnicas e tratamentos que têm a função de atenuar os sintomas e tornar a convivência com o distúrbio um pouco mais amena e, claro, evitar danos maiores no dia a dia. Um dos métodos mais eficientes e tradicionais, usado há anos, é a placa miorelaxante que representa o melhor tratamento para o bruxismo do sono. "De fato, posicionada entre os dentes superiores e inferiores relaxa a musculatura e evita o desgaste dental", explica Bruno Chagas. No entanto, mais da metade dos profissionais indicam a placa de silicone, maleável, por ser mais confortável para quem usa. "Essa recomendação deve ser muito criteriosa, pois alguns estudos mostram que a mais indicada é a placa rígida, já que a maleável de silicone pode aumentar o bruxismo, uma vez que o paciente aperta mais por ser mole", completa o buco maxilar.
O Botox é a nova arma para aliviar o aprofundamento do sulco na região entre o canto do nariz e lábio — chamado popularmente de bigode chinês — e a desproporção entre os lábios superior e inferior, a boca murcha. "Para tentar ajudar nesses casos específicos, novos tratamentos estão sendo usados, como a aplicação de preenchimento local, reduzindo a profundidade do sulco, levantando o lábio superior e aumentando a espessura dele, o que chamamos de escultura labial", esclarece.

O médico ainda ressalta que cada caso clínico é tratado separadamente e com indicações bem específicas. Pois como todo mal, deve-se tratar a raiz do problema. O especialista esclarece que o estresse e ansiedade devem ser analisados por um psicólogo ou mesmo um psiquiatra, distúrbios neurológicos, por um neurologista e por aí vai. Para amenizar o desconforto cotidiano, nem as sessões de massagem e acupuntura escapam do leque de tratamentos, quando a causa do problema é emocional. "No caso do bruxismo, a acupuntura pode reduzir a ansiedade e produzir um efeito relaxante, já que atua no emocional. Mas o método não restaura o que está em desequilíbrio. Outro ponto a favor é que a acupuntura estimula o sistema imunológico", finaliza Chagas.


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