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A indifrença por trás da morte

14 mar 2015 às 10:00
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A J.League começou no sábado passado, razão de não conseguir escrever como faço semanalmente.
Sobre o campeonato escreve futuramente, quando algumas rodadas estiverem completadas.
O que gostaria de falar nesse momento é sobre um terrível assassinato que ocorreu no final de fevereiro. Evitei até agora falar no assunto porque esse tipo de notícia acrescenta pouco ou nada para todos. Mas como li e ouvi algumas coisas nesse tempo todo, fiquei incomodado e vou tocar no assunto.
Ryoto Umemura, um garoto de 13 anos foi morto por um vagabundo de 18 anos, suposto chefe de uma gangue de vadios. Nunca foi noticiado como o menino entrou para o grupo, apenas de que ele sofria bullying frequentemente.
Chegou a ficar cheio de hematomas. Não freqüentava a escola desde janeiro. Seu professor foi cinco vezes até a casa dele para saber o que acontecia e não foi atendido nenhuma vez. No dia da sua morte, ele saiu depois do jantar e nunca mais foi visto com vida.
Aqui no Japão a escola liga para a casa do aluno quando ele não comparece à aula. Caso você fique gripado e com febre, precisa ligar para a escola dizendo que irá faltar, caso contrário receberá uma ligação da pedagoga para saber o que está acontecendo. Algumas vezes por ano, a professora marca um dia e horário para visitar a casa de cada aluno com a desculpa de que quer conversar com os responsáveis, que na maioria das vezes são aos pais. Mas na verdade ela está é observando discretamente a onde mora o aluno e procura sentir como ele vive. Percebe também se existe um espaço apropriado para ele estudar ou o menino (a) utiliza a mesa da cozinha para fazer suas lições de casa. Não podemos esquecer que as casas e apartamentos japoneses possuem espaços multiusos que é sala durante o dia e quarto de dormir durante a noite. Não é incomum que as crianças façam os deveres escolas na mesa de jantar, às vezes, a única mesa que a família possui.
Por essas razões é que fico intrigado como ninguém percebeu ou quis perceber que o menino passava por problemas.
Seus amigos, entrevistados depois de sua morte, diziam que ele estava envolvido com o bando e que era obrigado a realizar pequenos furtos. Sofria maus tratos constantemente.
Antes de ser morto por um golpe de estilete no pescoço, ele foi obrigado a ficar nu e nadar no rio, local onde seu corpo foi encontrado. A temperatura naquele dia era de 5 graus. Isso foi uma represália por ele ter comentado com alguns amigos que iria deixar a gangue por estar sofrendo maus tratos. O vagabundo assassino não gostou de saber disso e o matou.
Em nenhum momento foi dito uma palavra sequer sofre a família de Ryoto Uemura. Se ele tinha irmãos, pai, mãe ou se vivia com os avôs. Uma menção sequer sobre a possibilidade dele ter sido negligenciado pelos próprios pais, já que voltava para casa todos os dias e ninguém percebeu nada.
É praticamente impossível que um pai ou mãe com um mínimo de atenção não perceba se seu filho está ou não indo à escola. Se está ou não sofrendo calado. E os hematomas que apareceram? .
Só se esses pais nunca encontram os filhos por causa dos "afazeres profissionais", que por aqui incluem várias horas extras num "happy hour" com o pretexto de melhorar a convivência entre os funcionários, quando na verdade é uma maneira enrustida de puxar o saco do chefe. Com todo esse tempo jogado fora, sobra pouco tempo para a convivência familiar. É famoso o ditado de que o japonês dá mais valor ao trabalho do que a família.
O que sei é que não houve uma notícia sequer sobre os pais de Ryoto ou sobre a família do assassino. Nenhuma menção sobre o modo de vida deles.
Nada sobre o cafajeste assassino, apenas sua idade e de que não freqüentava as aulas há mais de dois anos. Mais uma vez, será que os pais desse delinqüente não sabiam que ele não ia à escola esse tempo todo? O que achavam que ele ficava fazendo o dia inteiro?
São questões assim, que não são noticiados para esconder um problema maior que me fez escrever, mesmo que tardiamente, sobre o assunto.
O que eles querem esconder é que a família por aqui é formada por estranhos, gente que possui o mesmo sobrenome, vive na mesma casa e sentam-se na mesma mesa, mas são estranhos uns aos outros. Muitos não sabem sequer "ler" os sentimentos dos filhos, são desligados emocionalmente.
Esse tipo de sociedade, onde cada um só vive para si é que contribui para que Ryoto Uemura sofresse e fosse morto sem despertar suspeitas.
Acredito que um pouco mais de camaradagem e companheirismo cairia bem nesse momento da sociedade japonesa.

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