Todos os anos, logo no começo de janeiro são comemorados o dia da maioridade. Ao completar 20 anos o jovem torna-se responsável pelos seus atos perante a sociedade. A partir de então terá que responder judicialmente pelo que faz e diz, terá sua conduta avaliada de modo diferente. Terá liberdade para as suas escolhas, mas será totalmente responsável pelas conseqüências. É a maioridade atravessando a porta.
No dia 29 de fevereiro de 2012 completei a minha maioridade em terras nipônicas, mas diferente do que acontecem com os jovens, minhas responsabilidades e atitudes foram julgadas e avaliadas o tempo todo. E devo confessar-lhes, venci. Passei no teste daqueles que escolheram viver no exterior. Recebi salvo-conduto para continuar vivendo, aprendendo e transmitindo conhecimentos. Fui aceito pelo o que sou, pelos meus valores.
Nesse tempo veio a família e eles são as principais testemunhas de tudo o que fiz, faço e penso. Espero que esteja no caminho certo.
Esses vinte anos passaram de modo relativamente tranqüilo. Não senti que foram rápidos, mas também não achei que demoraram como quando estamos com pressa e o farol teima em continuar vermelho. Saber ouvir e analisar deve ter sido o que mais aprendi. Mas sei que foi por pura necessidade de sobreviver numa sociedade mais fechada, onde até o silêncio nos mostram coisas. A cultura então, nem te conto. O que é engraçado para nós brasileiros, pode ser considerado um insulto para os japoneses. O tempo regulado, a pontualidade posto á prova. Toda idéia acompanhada de uma explicação, tudo o que se quer implantar ao lado de vários argumentos. Isso tudo me fez diferente, mas observador, mas crítico até.
Esse olhar diferente, às vezes, me causam problemas. É a inevitável comparação entre as duas culturas que mais conheço. De um lado tudo é heterogêneo. As cores da pele, as ondulações dos cabelos, os olhos azuis, verdes, castanhos. Os muitos gordos, os gordinhos, o fortinho, o magrinho, todos fazendo parte da mesma população. Em compensação, cabelos negros e lisos, os olhos escuros, o biótipo parecido fazem parte da outra. Um projeto de "shinkansen" de um lado e o término da torre mais alta do mundo do outro. Energia hidráulica e a energia nuclear. As estações do ano bem definidas e as quatro estações num único dia. O improviso descompromissado versus as regras certinhas e a necessidade de uma constante análise para não entrar em parafuso. Tem mais... segurança quase absoluta que nos permite deixar a chave no contato. O medo adormecido sempre esperando pelo pior dos terremotos. A alta tecnologia que muitas vezes nos afastam da realidade. A pressão muitas vezes insuportável que faz pessoas a tirarem a própria vida. Regras úteis e outras inúteis.
Mas acho que me saí bem. Se hoje vejo os brasileiros mais tristes eu sei por quê. Se hoje observo os japoneses buscando uma identidade, eu também sei o por quê. Descobri até o que faz uma pessoa mais feliz. Sabe o que é? É o destino.
O destino que nós mesmo traçamos.
Reverência ao Destino