Já são dois ou três dias de vento e chuva, força suficiente para levarem as ultimas pétalas dos sakurás.
Sei que quem nunca viu as flores de perto não entenderá perfeitamente qual é o sentimento disso tudo. As pétalas caindo uma a uma, deixando o chão entre o rosa e o branco ou sendo levadas pelos rios e córregos, deixa uma leva sensação de inoperância, da certeza de que nossos controles sobre a vida não nos pertencem.
Com as quedas das flores, acabou oficialmente o inverno e vamos nos preparando para um novo início de ano. Já na segunda-feira as escolas fazem a recepção para os novos alunos, as indústrias recebem os funcionários recém contratados e os comerciantes fazem planos ousados de vendas e promoções, e em cada um de nós ressurge a esperança de que tudo irá melhorar.
Interessante é que isso é simbolicamente marcado pela natureza nas queda das pétalas, que pode representar o fim para uns ou o início para outros. Essa ambigüidade tão comum em nós, simples mortais, não existe na natureza e é tão certo e seguro como as flores que se vão e as folhas que sempre aparecem.
Sabendo que as maiores ameaças para esta ilha vem da natureza (terremoto, maremoto, tufão, etc.) seria normal até certo repúdio, mas é exatamente o contrário. A aceitação e a reverência pelas matas, mares e montanhas são grandes fazendo o povo festejar cada alteração que ocorre em suas terras.
Talvez seja por isso que os japoneses festejam tanto nas mudanças das estações, com festas e alegria. Confiam tanto no que mostram as flores, as árvores, os rios e os ventos, que fica mais fácil crer que um Deus existe.
Partindo para outra com fé e confiança.
Atsui Sayonara