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Apartheid japonês

01 mar 2015 às 09:33
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Ayako Sono é escritora e tem 83 anos. É considerada conservadora e já causou algum barulho com suas idéias.
Enquanto o primeiro ministro Shinzo Abe está tentando mudar alguns conceitos, como aumentar o número de mulheres no Parlamento e no trabalho, ela escreve criticando as mulheres que continuam trabalhando depois de terem filhos. O primeiro ministro quer chegar ao número de 30% de mulheres em cargo de liderança até 2020.
A escritora é colunista semanal do jornal Sankei, de linha conservadora, uma das mais importantes do Japão com tiragem em torno de 1.6 milhões de cópias.
Desta vez ela escreveu que os estrangeiros que moram no país deveriam viver separados dos japoneses por causa das diferenças culturais. Defendeu o modelo que vigorou na África do Sul até pouco tempo, levando Nelson Mandela para a prisão por trinta anos.
O comentário da escritora causou mal estar em grande parte do governo que se apressou em dizer que essa idéia é pura e exclusivamente da autora.
Ela diz entender que o Japão precisa de mão de obra estrangeira para continuar crescendo, que os estrangeiros são bem vindos, mas que precisam viver separados por nacionalidades.
O comentário da conservadora foi tão criticado que até o embaixador da África do Sul escreveu falando da idiotice do texto, dizendo que a apartheid foi um crime contra a humanidade em pelo século vinte e um.
Disse também que a comunidade brasileira de 175 mil pessoas vivem separadas por escolha, o que foi prontamente rebatido pelo embaixador brasileiro no Japão, André Correi do Lago num artigo para o The Japan Times.
Interessante é que teve quem defendeu a escritora dizendo que o Japão deveria encerrar a política migratória e manter a população japonesa a mais homogênea possível.
No geral as críticas à autora foram maiores, mas deu para perceber que muitos preferem deixar as coisas como estão, sem leis que protejam os estrangeiros contra discriminações raciais e a dificuldade de qualquer cidadão não japonês em se integrar ao país.
Mais uma vez escrevo nesse blog que o Japão possui o maior índice de suicídios do mundo, sem uma causa aparente para tantas mortes. São mais de 30 mil óbitos por ano, número crescente na ultima década.
Olhando para o cotidiano, fica muito difícil entender as razões que levam tantas pessoas a se matarem, mas observando mais atentamente ao clima e a mentalidade enrustida em muitos por aqui, ao poucos, vamos entendendo os motivos que levam os "mais fracos e sensíveis" a não suportarem dividir sonhos e aspirações com os seus vizinhos e colegas de trabalho. Regras não escritas por aqui têm aos montes, preconceituosos de todas as espécies e "abusadores emocionais" enchem as repartições e empresas. Não é fácil suportar tudo isso cotidianamente sem cair em alguma cilada emocional.
As agressões à vida no dia a dia japonês é mais camuflada e é necessário olhos abertos e sensibilidade à flor da pele para perceber os mal tratos que sofremos por aqui, sejam nativos ou estrangeiros.
Sugerir que as pessoas deveriam morar separadas em grupos conforme a sua nacionalidade foi, talvez, uma das declarações mais bizarras que ouvi nos últimos tempos.
É nítido as dificuldades que o país vem enfrentando por falta de mão de obra, qualificada ou não, e óbvio que a baixa natalidade trará problemas gravíssimos futuramente.
Mesmo assim, saber que existem pessoas que defender essa tese é simplesmente desacreditar no bom senso.

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