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Dez anos da Lei de Prevenção à Violência Infantil

13 ago 2010 às 11:16

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Relutei em escrever sobre a violência infantil no Japão, porque não gosto nem de pensar no assunto. Mas nos últimos tempos tenho visto e ouvido tantas notícias sobre essa aberração que não resisti e vou colocar algumas observações.
Primeiro que o Japão chegou atrasado para entender a questão da violência infantil. Quando foi a criado a Lei, registraram 17.725 casos de agressões. Dois anos atrás esses números subiram para incríveis 42.662 ocorrências. E os que não foram regsitrados? A Lei existe há dez anos, e antes disso, não havia violência infantil?
Em segundo lugar a cultura japonesa não ajuda muito a questão. Aqui se dá valor demasiado aos mais antigos e isso se traduz numa subserviência doentia. O mais velho pode ser um babaca deformado mas todo mundo precisa reverenciar. Isso faz com que ocorram abusos, principalmente na escola, onde os mais velhos sentem-se donos dos mais novos ocorrendo o famoso "ijime", que nada mais é do que abusar dos novatos.
Em seguida vem a conivência dos adultos, pais, professores e todos esse pessoal que poderia dar um basta nestas bobagens todas. Eles falam muito que isso não pode acontecer, mas são os primeiros a aceitarem e muitas vezes incentivarem esses atos. Eu até procuro entender essa burrice toda, pois sei que todos eles vieram dessa mesma cultura onde o mais velho é melhor e mais importante que o mais novo.
Daí para a violência infantil é um pulinho, porque as crianças sempre serão os mais novos e os mais fracos.
Resolvi escrever tudo isso porque faz algumas semanas uma mãe de 23 anos deixou seus filhos morrerem de fome e sede dentro da própria casa. Eles tinham 3 e um ano e foram encontrados mortos em estado de decomposição. A mãe disse que ficou cansada de cuidar dos filhos e precisava de mais tempo para se divertir. Aonde ela trabalhava? Quem adivinhar ganha um sorvete. Ela trabalhava numa casa noturna como acompanhante, os famosos "sunakos" que existem em cada esquina. Ganhava uns trocados dormindo com alguns dos seus clientes e simplesmente esqueceu dos filhos em casa.
A denúncia partiu dos vizinhos por causa do mal cheiro que exalava do apartamento. Eles disseram que ouviam choros constantes e alertaram o serviço social, mas ninguém tomou nenhuma providência concreta. Eu acho que esses choros eram de medo, de sede, de fome, de desespero. A polícia encontrou as crianças entre lixos e fraladas sujas. A mãe disse que sabia que se não os alimentassem eles morreriam. E foi o que fez.
A notícia saiu nas TVs no mesmo dia em que foi realizado uma missa em razão dos 65 anos da bomba atômica em Nagasaki e Hiroshima. Nunca vi uma notícia ser dada com tanta tristeza pelos jornalistas.
Não me sinto mais aliviado por escrever tudo isso, mas precisava mostrar para os meus conterrâneos aí deste lado do mundo que a coisa aqui está brava. Tem dia que não sei onde tudo isso vai parar. Não me sai da cabeça o que essas crianças podem ter sofrido, pois ninguém morre de fome de um dia para outro. Os choros, a escuridão, a sede, o medo, o desamparo. Nossa!!

Um pouco da notícia que saiu por aqui.

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