Estava começando a escrever sobre a torre mais alta do mundo que é a nova sensação em Tóquio, quando me chega a mãos vários depoimentos de brasileiros, ex-dekasseguis, arrependidos de terem retornado ao Brasil. Eles partiram do Japão na época da crise mundial, aquela que derrubou o Lehmam Brothers e várias outras instituições financeiras. Era início de 2008 quando as indústrias japonesas começaram a demitir em massa causando uma insegurança antes nunca visto. Nesse redemoinho de problemas, os dekasseguis foram os primeiros a perderem seus empregos. Todos aguardaram uns dois meses para ver se a crise dissipava, enquanto procuravam trabalhos em outras cidades, na esperança de que os problemas se limitassem apenas à sua região. Engano total. O mundo inteiro estava envolvido na catástrofe.
Percebendo que haveria um grande problema social, o governo japonês resolveu dar a quantia de 300 mil ienes por pessoa que quisessem deixar o país. Os brasileiros não pensaram duas vezes. Pegaram esse dinheiro e voltaram felizes ao Brasil. Muitos deles abandonaram dívidas das prestações dos carros e casas que adquiriram por aqui. Outros, mais afoitos, foram de carro até o aeroporto, e lá abandonaram seus veículos causando transtornos inacreditáveis aos policiais. Casas e apartamentos alugados foram "entregues" para as imobiliárias com os móveis e outros utensílios, sem a menor preocupação com a limpeza. Os donos que se virassem depois.
Assim foi aquele período de corre-corre, cada um tentando salvar apenas a própria pele.
Hoje, tudo está praticamente normalizado. Os trabalhos voltaram e sobram vagas para serem preenchidas. Os salários já voltaram aos patamares anteriores e falta mão de obra nas maiorias das indústrias e serviços.
Pois bem, os depoimentos que li, foram de pessoas que ficaram decepcionadas com o Brasil atual. A maioria conseguiu um trabalho, mas diz que o salário é tão ruim e que não vale a pena tanto sacrifício. Acho que isso é o resultado de compararem os ganhos num país rico com outro em desenvolvimento. A violência é a maior das reclamações. Basta dizer que a quantidade de homicídios que acontece durante um ano aqui no Japão é menor do que algumas horas aí no Brasil. Outra queixa é referente à falta de perspectivas. Parece que o pessoal olha, olha e não encontra um caminho a seguir.
O problema é que essa gente não pode retornar ao Japão por terem aceitado a ajuda do governo, aqueles 300 mil ienes. O visto de trabalho e de estadia não sai.
Eu imagino que o choque deve ter sido grande, depois de ter passado aqueles momentos de euforia, típico de quando voltamos aliviados para o local onde conhecemos, onde temos os amigos, onde falamos a mesma língua.
Aí, fiquei aqui pensando... será que quererem retornar ao Japão por não se adaptarem mais ao Brasil é uma coisa boa ou ruim?
Afinal, quando aqui estamos, pensamos semanalmente em como seria retornar e, pelo visto, o contrário também acontece. De volta ao país natal, muitos gostariam de enfrentar novamente as regras, a disciplina, trabalho árduo. Conviver com culturas diferentes, opostas até. Vai saber.
Japan