Quando criança eu mesmo construia meus carrinhos de rolimãs. Procurava por tábuas e sarrafos pelas construções do bairro e as rolimãs buscava na inúmeras oficinas de carros. Tinha também filtros de óleos usados de caminhões "scania" ou FNM, que depois de limpos e secos, dava para fazer um belo carrinho muito parecido com "tanque de guerra" puxado por um barbante reforçado. E eu desfilava pela rua de terra, molhando a "máquina" na água que teimava em escorrer pelo canto da guia, puxando meu carrinho e sonhando com o futuro.
Meu carrinho de rolimã era a sensação entre nós, moleques, porque além de muito veloz, era bem feito. O eixo trazeiro, com rolimãs pequenas, bem largo e baixo para manter a estabilidade. A da frente, um pouco maior mas bem fixado para suportar batidas inesperadas. Descíamos todos de uma só vez e dava para perceber que o barulho incomodava os vizinhos. A sorte era que ninguém tinha como reclamar de ninguém porque todos morávamos na mesma rua.
Para construir nossas máquinas pedíamos emprestados ferramentas para o nossos pais. Martelo, furadeira, brocas, serrotes, além de pregos e parafusos. Era trabalho para engenheiro nenhum botar defeito. Uma Ferrari perto dos nossos "carros" poderia ser considerado antiguidade. Como as tábuas e os sarrafos eram grossos, furar para passar um simples parafuso era coisa para gente grande. Aí, pensávamos se não existiria uma maneira mais fácil para construir nossos carrinhos. Fiquei engenheiro por vários anos até que outros deveres foram me tirando dessa rota de píloto. Foram as aulas de judô, tênis, basquete, natação e handebol.
Hoje vejo máquinas que fazem furos de tudo o que é jeito e fico pensando como tudo ficou mais fácil. Ah... como os tempos mudaram! Aquelas dificuldades não existem mais. Carrinhos de rolimãs, nem pensar. Os pessoal é capaz até de chamar a polícia para conter uma brincadeira dessa. As facilidades ficaram por conta dos jogos eletrônicos, games portáteis, computadores pessoais, convivência dentro dos condomínios, clubes esportivos intransponíveis. Mas pensando bem, acho que fazer os furos do meu carrinho de rolimã era mais divertido, e de certa forma mais instrutivo. Feliz infância minha.
Furo quadrado