Beirada nipônica

No Japão, para conseguir emprego, não precisa falar japonês

07 dez 2014 às 09:57

Recentemente, fui conversar com um grupo de alunos sul americanos, mais especificamente brasileiros e peruanos, todos os estudantes da língua japonesa e com vários anos no Japão. Resolveram estudar para que a vida por aqui ficasse mais fácil, para não depender de intérpretes e nem de favores de ninguém.
Para a maioria dos dekasseguis, a barreira da língua é quase intransponível devido à dificuldade de encontrar uma escola, os horários dos trabalhos e das aulas, o local e o tempo de deslocamento, entre tantos outros obstáculos. Isso tudo acarreta há anos uma multidão sem conseguir se comunicarem de maneira adequada, precisando de ajuda para resolverem questões nas prefeituras, escolas e hospitais.
Mesmo depois de mais de vintes anos desde o início da era dekassegui, muitos ainda não conseguem se expressarem convenientemente, o que os deixam frustrados, pois gostariam de seguir a vida sem incomodar ninguém ou não precisar pagar pelos serviços dos intérpretes.
Esse encontro demorou quase três horas, pois todos tinham alguma coisa para falar.
Durante a conversa "exigi" que eles mostrassem o que aprenderam e a conversa, na medida, do possível não foi em português. Assim eles teriam mais uma chance de praticar a conversação, tão intensamente treinada durante as aulas.
Falamos sobre as dificuldades que cada um encontrou quando chegaram, as expectativas, as principais diferenças culturais que sentiram nos primeiros meses, e falamos também do trabalho.
Num determinado momento, perguntei se alguém já havia sido rejeitado por um empregador por não saber a língua japonesa, e todos responderam que nunca passaram por esse problema. Disseram que a falta de mão de obra sempre foi grande e os empregadores não se podem dar ao luxo de dispensar alguém somente porque não compreendem a língua, e talvez não consiga se expressar adequadamente. O mais importante para eles é que a pessoa aprenda o trabalho e siga desempenhando. Para isso, recorrem a algum veterano sul americano para ensinar o que fazer.
O tempo passa, o trabalhador aprende, pois normalmente o que irá executar é repetitivo ou com poucas variações. Esse ciclo acomoda e ninguém precisa sair correndo para estudar japonês, se o caso for apenas o trabalho.
Mas, um dia os filhos chegam e com eles uma enorme quantidade de variações, pois são necessárias idas e vindas aos médicos, depois vêm às reuniões escolares, os documentos nas prefeituras, o seguro saúde, a lição de casa e os novos amiguinhos. Aí, já se foram dez, quinze anos e a obrigatoriedade de saber falar passa a ser primordial.
Mas para conseguir um emprego, não. Lá basta ter braços e pernas que tudo se resolve.
Saí do encontro sem saber se me sentia triste ou feliz.

A escolha


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