Hoje de manhã meu filho saiu para fazer um simulado de vestibular para a Universidade de Kyoto. Acordou cedo e foi logo escovando os dentes, tomando banho e colocando seu uniforme do colégio. Pois é, precisa do uniforme porque a Universidade quer saber de onde são os alunos que vêem para o teste.
Preparei seu café da manhã, que aqui no Japão é um "meio almoço". Ele comeu arroz, ovo frito, um pedacinho de carne branca, um pequeno croquete de legumes, uma bolinha de almôndega, leite e água. Saiu para a estação de trem onde dois amigos o esperavam. O teste começa às 9 horas e termina às 15:30 horas, depois ele me disse que iria dar um volta pela cidade juntamente com os colegas. Vai ver quer refrescar a cabeça depois de tantas horas sentada usando o tutano.
Ele saiu, olhou para trás e me deu tchau. Fique observando-o por alguns segundos e vi como ele cresceu, ficou independente e sai em busca de um sonho, uma meta.
Enquanto isso, sozinho em casa, me peguei recordando quando ele era pequeno. Dos seus primeiros passos, do sorriso que não saia dos seus lábios, aquele olhar esperto de nenê malandro. A primeira bicicleta e aquele zig-zag doido até aprender a se equilibrar. As primeiras aulas na escola de inglês, o primeiro dia na pré-escola, o primeiro pulo na piscina. Tudo isso me veio numa recordação intensa, como se fosse ontem, como se fosse algumas horas atrás.
Ele está sempre estudando, lendo, pesquisando, mexendo no seu dicionário eletrônico porque kanjis existem aos montes. Todo dia tem lição de casa, ora da escola, ora do inglês. Pode ser sábado, domingo ou feriado, que ele está lá, sentado na sua mesa escrevendo alguma coisa.
Meu menino cresceu, está na transição entre a adolescência e a fase adulta, tem muitas dúvidas, algumas inseguranças. Ele não fala muito sobre isso, mas eu leio em seus olhos e gestos de que precisa de apoio e orientação. De mim ele não esconde nada, mas sei que tudo isso irá mudar em breve. Logo mais estará em alguma faculdade preparando-se para levar a vida sem mim e do jeito que achar melhor.
Eu sei que precisa ser assim, afinal todo ser humano busca um caminho e o meu filho não é diferente.
Mas vou confessar que sinto uma solidão antecipada só de vê-lo sair sozinho na direção da sua vida, dos seus sonhos. Por outro lado, sinto uma alegria imensa de tê-lo ajudado a tornar-se um filho preparado para o mundo. Não está completo ainda, talvez nunca esteja, mas sentir que ele está seguindo o caminho que escolheu por sua própria vontade já é um grande prazer. É o meu filho para o mundo.
Não pense que eu estou velho. É apenas amor de pai.
Para o mundo