Aconteceu novamente. Em Osaka, no Sakuranomia High School, colégio de grande renome, um aluno de 16 anos tirou a própria vida. Ele era o capitão da equipe de basquete e querido por todos os companheiros. Mas o professor/treinador, que não é ninguém especialista no esporte, agredia o menino diariamente com socos e pontapés. Uma das cartas diz que ele chegou a ser esmurrado mais de trinta vezes. Muitas reclamações chegavam ao diretor e outros professores, mas ninguém nunca interferiu. A hierarquia é seguida á risca e é bastante rígida.
Não sei dizer se os pais desse menino sabiam de toda essa covardia, mas acho que eram omissos e achavam que os hematomas eram coisas dos treinos.
A minha visão estrangeira sobre a cultura japonesa diz que muitos pais aceitam as agressões sofridas pelos filhos porque acham que eles sairão fortalecidos no futuro. Esses mesmos pais também sofreram alguns tipos de agressões quando crianças ou adolescentes, e como chegaram vivos na fase adulta, acham tudo isso normal.
Numa enquête realizada na escola mostrou que entre os cinqüenta alunos do basquete, trinta e oito sofriam agressões constantes. Pelos números, fica difícil de acreditar que tudo isso passava invisível perante os olhos de todos, especialmente outros professores.
A noticia causou novamente muito burburinho e reviveu debates entre os "educadores", que nós sabemos não resolvem coisa nenhuma porque eles não têm coragem de apontarem que tudo começa com eles próprios. Já escrevi algumas vezes que o ‘bullying’ está incorporado na cultura japonesa principalmente entre os adultos, e por efeito cascata chega até as crianças. Só que os adultos que cometem suicídios por causas disso são poucos e ninguém fala sobre isso. Já quando acontece entre crianças, procuram-se culpados em todos os lugares, menos entre os adultos.
O professor que agredia o menino confirmou tudo, o diretor também disse que sabia das bofetadas e por que ninguém fez nada? Porque as crianças japonesas são sozinhas, recebem pouquíssima atenção dos pais, incluindo carinhos, abraços, afagos e beijos. Para compensar tudo isso, muito game, eletrônicos e conforto material.
Como a sociedade zela pelo esforço, pelo suor, pelo sacrifício e pela competição, fica bastante difícil imaginar que o cenário mudará em pouco tempo. Talvez não mude nunca.
Solidão invisível