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Valores falhos

17 jul 2016 às 10:44

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Eu nunca entendi muito bem a vida dos brasileiros no Japão. Como eu, todos vieram com sonhos, mas poucos conseguiram alcançá-los. Interessante é que esses sonhos não eram tão inacessíveis, mesmo assim a grande maioria ficou para trás.
Trabalhando em fábricas como operários, não é muito difícil conseguir alguns bens materiais. A primeira "grande compra" é sempre um carro, seguido por componentes eletrônicos. Muitos possuem dois celulares e televisores de ultima geração.
Outra coisa que os conterrâneos gostam muito de fazer é um churrasquinho ou festinha para comemorar qualquer coisa. Tudo isso lembra o Brasil, não é mesmo?
O problema é que estamos no Japão e a realidade é diferente. Logicamente nada contra carros ou churrascos. Acredito que são valores que trazemos na vida.
O brasileiro não está subindo na pirâmide social japonesa. Continuam como operários, e parecem satisfeitos com isso. Não enxergam novos horizontes, não conseguem aproveitar as oportunidades que aparecem. Não ficam preprados para melhorar de vida.
A grande maioria está acomodada com o estilo atual, e quase ninguém se preocupa em estudar ou aprimorar seus conhecimentos.
Os filhos adolescentes abandonam a escola com muita facilidade para sujarem as mãos de graxa, as filhas ficam grávidas sem estarem preparadas para enfrentarem o mundo como mães. Sem estudo, ganhando por hora, caem no circulo vicioso de continuarem a serem operárias, gostarem de festinhas e comemorações e não ascenderem socialmente.
A pergunta que fica é: por que o brasileiro não melhora sua condição profissional no Japão? A resposta é simples. Porque não estudam e possuem pouco interesse em adquirir novos conhecimentos. Até pelos valores operários dos pais, muitos filhos não pensam em cursar uma universidade, e se contentam em terminar o ensino médio para trabalhar no chão das fábricas. Eles são "informados" através das atitudes dos pais de que estudar é secundário, não necessário.
Logico que estudar requer disciplina, ainda mais num país onde a educação é tão levado a sério. Existe também o agravante das escolas japonesas não estarem preparadas para receberem alunos estrangeiros, das enormes barreiras culturais e da falta quase total de apoio aos "gaijins" no que se refere aos estudos de uma maneira geral. Os cursos paralelos como linguas ou informática são caríssimos, e não garantem trabalhos bem remunerados. Então, o mais fácil, é seguir a vida nas fábricas, já que é onde mais falta mão de obra.
Mesmo sabendo de todas essas barreiras, não me entra na cabeça a razão dos brasileiros dekasseguis, darem pouco valor para os estudos.
Já estamos chegando ao final da segunda geração de brasileiros no Japão. Esses meninos o meninas estudaram aqui, poderiam concorrer praticamente de igual para igual num vestibular. Poderiam cursar matérias que pudessem colocá-los num patamar diferente dos seus pais, que não tiveram muitas escolhas profissionais, já que não dominavam a língua e não sabiam nem ler e nem escrever os kanjis que aparececiam pela vida.
Acho que está na hora desses valores mudarem. Da geração mais jovem subirem o degrau acima, de deixarem para trás apenas o trabalho braçal, que não requer criatividade e quase nenhuma inteligência.
Será que os valores tupiniquins estão errados? Será que festinhas e churrasquinhos valem mais do que dar duro em cima dos livors?
É uma questão que deveria ser debatida com seriedade dentro da comunidade brasileira, que já completou mais de duas décadas e poderia mostrar coisas muito melhores do capoeira, samba, coxinhas e pastéis.

Cultura japonesa

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