Fechando a Trilogia da Frieza, do austríaco Michael Haneke, 71 Fragmentos de Uma Cronologia do Acaso, feito em 1994, não poderia encerrar melhor esta trinca de filmes. Escrito pelo próprio diretor, temos aqui um rico painel de cenas cotidianas de pessoas comuns da Áustria. As situações que nos são mostradas parecem tão banais e corriqueiras que beiram o documental. É justamente daí que Haneke extrai a força e o impacto de sua narrativa. E já no começo ele nos diz o que vai acontecer. Só não sabemos quem e muito menos a razão. A partir dessa informação acompanhamos a rotina de diversas pessoas e, claro, com o que sabemos antecipadamente, a tensão só aumenta. Haneke estabelece uma expectativa e passa a brincar e a nos incomodar com ela. O incômodo vem da simplicidade das imagens. A vida daqueles indivíduos se parece com a nossa própria. A identificação, em muitos casos, é instantânea. Costumamos dizer que a violência do dia-a-dia não nos choca mais. É como se estivéssemos todos anestesiados. Haneke nos lembra o quão perigoso é esse descaso. Em tempo: Seis anos depois, ele utilizaria esse recurso outra vez, com algumas variações, na produção francesa Código Desconhecido.
71 FRAGMENTOS DE UMA CRONOLOGIA DO ACASO (71 Fragmente einer Chronologie des Zufalls - Áustria 1994). Direção: Michael Haneke. Elenco: Gabriel Cosmin Urdes, Lukas Miko, Otto Grünmandl e Georg Friedrich. Duração: 100 minutos. Distribuição: Obras-Primas do Cinema.