Woody Allen é detentor de uma marca invejável. Ele dirige um filme por ano desde 1971. Como já realizou muitas obras, pode-se pensar que o cineasta tem mais baixos do que altos. Ledo engano. Sua extensa filmografia prova exatamente o contrário. E tem mais: seus poucos baixos estão bem acima da maioria dos melhores trabalhos de muitos diretores. Quando ele erra, é legal. E quando acerta, aí, meu amigo, sai uma obra-prima como este A Rosa Púrpura do Cairo, que ele escreveu e dirigiu em 1985. A história nos apresenta a doce e sonhadora Cecilia (Mia Farrow). Ela vive em uma pequena cidade durante os anos da Grande Depressão americana. Ir ao cinema é a coisa saída que ela tem para fugir daquela dura realidade. Cecilia assiste a um mesmo filme repetidas vezes. Tanto que até o ator principal do filme dentro do filme, Tom Baxter (Jeff Daniels), percebe sua presença todos os dias na sala e sai da tela. Allen utiliza elementos de metalinguagem, que é quando se usa o meio para falar do próprio meio. Mas, aqui, nada parece pedante ou fora do lugar. A Rosa Púrpura do Cairo é um filme mágico. Em todos os sentidos. E vai mais longe. É uma das mais belas declarações de amor ao ato de ir ao cinema, de apreciar o cinema e do próprio cinema, como arte e entretenimento. Coisa de gênio.
A ROSA PÚRPURA DO CAIRO (The Purple Rose of Cairo - EUA 1985). Direção: Woody Allen. Elenco: Mia Farrow, Jeff Daniels, Danny Aiello, Van Johnson, Zoe Caldwell, John Wood, Edward Herrmann e Deborah Rush. Duração: 82 minutos. Distribuição: Fox.