A filmografia do americano Darren Aronofsky está repleta de obras que não permitem meio termo: ou você adora ou você detesta. E a partir de 2006, ano em que lançou Fonte da Vida, as referências bíblicas começaram a ficar mais evidentes. Essas referências atingem seu grau máximo em Mãe!, escrito e dirigido por ele em 2017. Desde sua estreia no Festival de Veneza o filme vem dividindo opiniões. O que reforça a máxima "ame-o ou deixe-o". Tudo acontece em um mesmo cenário, que é também personagem importante na trama: uma casa isolada no meio do nada. Lá vive um casal, Ele e Mãe, vividos por Javier Bardem e Jennifer Lawrence. O primeiro é um poeta com bloqueio criativo. A segunda passa o tempo restaurando a casa. De repente, visitas inesperadas começam a aparecer. Um homem e uma mulher, Ed Harris e Michelle Pfeiffer. Depois os dois filhos deles e, na sequencia, mais e mais gente. Boa parte da inspiração para o roteiro está no livro do Gênesis. Ele é Deus e também o mundo. Ela é a mãe natureza. O homem e a mulher seriam Adão e Eva e seus dois filhos, Caim e Abel. Mas essas são as citações mais óbvias. Aronofsky nos conduz em Mãe! por caminhos bem tortuosos e o faz de maneira corajosa. Não há aqui o uso de uma trilha sonora, o que poderia facilitar nosso envolvimento emocional. O filme é seco, a fotografia é pesada, o ritmo beira o angustiante em muitos momentos. Tudo isso transforma Mãe! em uma experiência, antes de tudo, sensorial. E justamente por isso, não tem como o espectador ficar em cima do muro. Reforço o que eu escrevi nas primeiras linhas desta resenha: ou você adora ou você detesta. Eu adorei!
MÃE! (Mother! - EUA 2017). Direção: Darren Aronofsky. Elenco: Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Ed Harris, Michelle Pfeiffer, Domhnall Gleeson e Kristen Wiig. Duração: 121 minutos. Distribuição: Paramount.