Pode um título de filme, ao mesmo tempo, despertar o apetite e a curiosidade, ser poético e sintetizar uma cultura? Em se tratando de O Sabor do Chá Verde Sobre o Arroz, dirigido pelo japonês Yasujiro Ozu, em 1952, claro que sim. Com roteiro original do próprio Ozu, escrito junto com Kogo Noda, seu colaborador habitual, é possível uma conexão com a obra O Feijão e o Sonho, de Orígenes Lessa, no sentido de invocação de uma metáfora. O chá e o arroz fazem parte da cultura gastronômica do Japão e aqui funcionam também como símbolos do confronto entre tradição e modernidade neste drama familiar que aborda o casal Mokichi (Shin Saburi) e Taeko (Michiyo Kogure). O casamento deles foi arranjado, algo comum na tradicional sociedade japonesa. Não existe amor. Apenas a manutenção de uma estrutura social secular. As coisas se complicam e uma crise se estabelece entre os dois quando Setsuko (Keiko Tsushima), sobrinha de Taeko, se recusa a aceitar se casar daquela maneira. Mais uma vez, o cineasta parte de um drama íntimo e familiar para tratar de questões bem maiores. A narrativa peculiar e original de Ozu, tão característica de sua filmografia, está presente em sua plenitude neste belo poema filmado.
O SABOR DO CHÁ VERDE SOBRE O ARROZ (Ochazuke No Aji - Japão 1952). Direção: Yasujiro Ozu. Elenco: Shin Saburi, Michiyo Kogure, Koji Tsuruta, Chishu Ryu, Chikage Awashima, Keiko Tsushima e Kuniko Miyake. Duração: 115 minutos. Distribuição: Versátil.