François Truffaut costumava dizer que "um filme tem que nos falar algo sobre a vida e algo sobre o cinema". O cineasta romeno Cristi Puiu, desde que começou a fazer filmes, em 2001, segue esta frase literalmente. Ele faz parte do chamado "novo cinema romeno". Sieranevada, que ele escreveu e dirigiu em 2016, foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes daquele ano e conta uma história bem atual. Tudo começa três dias após o ataque terrorista à redação do Charlie Hebdo, em Paris. Larry (Mimi Branescu) vai passar o fim de semana com seus parentes. Pouco mais de um mês após a morte de seu pai, alguns assuntos familiares continuam pendentes. É justamente em torno desta reunião familiar que Puiu instala sua câmera e nos faz acompanhar as tensões que surgem naturalmente. Ao longo de quase três horas e utilizando um único cenário, homens e mulheres, sem que nós saibamos de pronto quem é quem, vão conversando, discutindo assuntos os mais diversos e se estressando em nossa frente. E não pense se tratar de um filme chato com muito blá-blá-blá e pouca ação. Sieranevada revela o domínio narrativo de seu diretor, que prende nossa atenção da primeira à última cena de maneira surpreendente.
SIERANEVADA (Sieranevada - Romênia 2016). Direção: Cristi Puiu. Mimi Branescu, Judith State, Bogdan Dumitrache, Dana Dogaru, Sorin Medeleni, Ana Ciontea e Rolando Matsangos. Duração: 173 minutos. Distribuição: Focus/Flashstar.