Uma análise rápida e superficial do filme Sniper Americano poderia taxá-lo de um manifesto bélico pró-Estados Unidos. Mas isso, como eu escrevi no início do texto, seria um entendimento raso e precipitado do que a obra realmente é. Clint Eastwood não é um cineasta qualquer. Ele sempre tem algo a dizer e sabe como fazê-lo. O projeto do filme, na verdade, começou quando o ator Bradley Cooper ficou sabendo dos feitos do atirador de elite Chris Kyle, autor, junto com os jornalistas Scott McEwen e Jim DeFelice, de um livro que conta sua história na Guerra do Iraque. Membro das Forças de Operações Especiais da Marinha dos Estados Unidos, ele teria matado oficialmente 160 inimigos de seu país em combate. O roteiro, adaptado por Jason Hall, começa na infância de Chris, passa por sua adolescência e vida adulta, mostrando muito bom o que fez dele o homem que ele se tornou. Eastwood não julga ninguém. Porém, faz um uso inteligente e preciso de sua narrativa ao definir bem onde está pisando. Há aqui um belo trabalho de construção e desconstrução de imagem com base no relacionamento de Chris com seu irmão Wayne (Ben Reed). Uma frase dita no início do filme pelo pai de ambos resume com perfeita a relação que se estabelece entre os irmãos: "Existem três tipos de pessoas no mundo: as ovelhas, os lobos e os cães pastores". Existe também a figura de Mustafa (Sammy Sheik), o reflexo iraquiano do herói do Tio Sam. Sniper Americano é na verdade um grande e profundo estudo de personagem. Chris, vivido de maneira intensa por Bradley Cooper, é um homem perdido e quebrado em sua essência. Mesmo quando está junto de Taya (Sienna Miller), sua esposa e mãe de seus filhos, ele parece não ter paz interior. E o diretor expõe soberbamente este conflito interno.
SNIPER AMERICANO (American Sniper - EUA 2014). Direção: Clint Eastwood. Elenco: Bradley Cooper, Sienna Miller, Luke Grimes, Navid Negahban, Cory Hardrict, Ben Reed e Sammy Sheik. Duração: 132 minutos. Distribuição: Warner.