Quem me conhece, pessoalmente, sabe que quase fui estuprada semana passada Mas o que mais me surpreende, que eu estava de calça jeans, para dar um check mate nessa pesquisa machista! Você pode até aliviar a sua ansiedade, ao querer reforçar sua sensação de segurança, ao falar, tentando se convencer: -Mas você estava "no lugar errado", oras! Eu sinto muito em te fazer sentir vulnerável e desprotegido ao te responder: - Que muito pelo contrário, eu estava no lugar certo, o meu caminho habitual, ele, sim, o estuprador é que estava"na atitude errada"!
Assim, quero me apresentar: Sou Psicologa e atendi no HC de Curitiba muitas mulheres vítimas de abuso sexual que vinham ao meu encontro e aflitas me questionavam:
Será que fui a culpada?
Será que foi a minha roupa?
Será que fui eu que provoquei?
Será que eu merecia isso?
Será que é castigo de Deus?
Um desfile de culpas, motivado por crenças sociais que a mulher era a causadora de sua própria agressão! Era o que escutava diariamente. Admito que, naquela época, ao escutar, nunca imaginei passar por tal situação! Acredito, que não há mais conhecimento profissional ou classe social que te isente de tal vivência!
Basta estar viva e ser mulher!
Diz que o mito que simboliza o terapeuta é Quiron, curador ferido. Só se cura a sua ferida interna, na medida que ajuda o outro a cicatrizar a sua, também.
Azar ou Sorte sua,você pode me perguntar?
Eu respondo, sorrindo, só depende do seu olhar...
Devo confessar, a todos vocês, que a partir, dessa vivência, eu me dou ao direito, no aqui e no agora, de sair da posição de suposto saber, o que garante proteção ao terapeuta, e deitar no divã junto a todas nós, mulheres, pois vivenciei isso na pele! Assumo que muitas dessas culpas femininas pairaram, como vocês, por minha mente, também.
Mas, quando fui acuada, como uma presa, com uma arma de choque no meu pescoço, eu me vinguei por todas vocês! Evito entrar no mérito que vingança é um jeito bom ou mau de resolver a situação, mas foi o que aconteceu: uma força interna brotou de mim, ao se transformar, numa grande certeza: Ele não irá ter o que quer!
Assim, aproveito essa oportunidade, de agradecer de coração, a todas vocês, mulheres anônimas, que com suas histórias de vida cruzaram no meu caminho, pois com essa união da energia feminina coletiva de todas vocês, o mosaico ali se fez, para me intuir como agir naquele momento crucial de minha vida.
Como professoras, vocês me ensinaram que como aprendiz intui fazer: que ao ser ameaçada, não esboce reação de pânico, pois o gozo do estuprador, se dá ao se sentir poderoso ao subjugar a vítima, quando se mostra uma presa indefesa. Assim, quando alguém está muito instintivo, comportamento visto no dependente químico, traga ele à razão, sem ficar quieta, pois quem cala concede tal ato, o questionando ou conversando com ele, temos nossa arma natural: a palavra e quando uma mulher fala muito, sem parar, tira qualquer homem de seu eixo, eles se perdem na ação que iriam realizar, essa foi minha salvação. Graças à Deus! Bem, eu posso estar contribuindo, com meu relato, para ensinar: Como uma mulher se comportar para não ser violentada na sua integridade física! Socorro! Mas eu almejo, bem mais que isso, ao pedir à todas as mães, que ensinem os seus filhos, quando crianças, como lidarem com seus instintos primitivos.
Porque assim desse jeito, daqui a pouco, nessa Sociedade atual estaremos em rumo à Idade Média, julgando que são as mulheres culpadas por despertar desejo no homem e acabar, novamente, as queimando na fogueira da nossa própria vaidade.
Carla Ramos ( Psicologa Junguiana Especialista em MKT e Propaganda na empresa Saúde com Vida)