Josefina era a velhinha costureira do bairro, e apesar de ser uma velhinha muito querida ela era também muito sozinha.
A única coisa que sempre a acompanhava era um velho boneco de pano já amarelado que Josefina ganhou quando ainda era pequena. Só que o boneco ficava lá parado na estante, com aqueles pequenos olhos pretos pintados à mão já meio apagados pelo tempo, olhando com doçura para sua dona de muito tempo, não tinha mais os cabelos e sua roupa não passava de um trapo velho.
Era tarde do dia de natal e Josefina estava apressada para terminar a encomenda da Dona Maricota, uma senhora muito brava que morava no bairro. Josefina sabia que se não terminasse aquele vestido até o final da tarde D. Maricota ia armar a maior confusão, e isso era o que ela menos queria. Então Josefina trabalhava a todo vapor com a máquina de costura, mesmo sendo feriado de natal, já que não tinha ninguém com quem compartilhar aquela noite especial.
No meio da correria não percebeu que o boneco caiu da estante dentro de sua caixa de costura que estava cheia de retalhos de tecido, botões, fios e todas essas coisas que as costureiras usam.
Conforme o tempo ia passando Josefina ficava cada vez mais apressada e não notou que dentro da caixa de costura o boneco ganhou vida e começou a se mexer.
Remexe daqui, remexe dali e um pequeno emaranhado de lã acabou grudando na cabeça do boneco formando o que parecia ser um cabelo laranja todo espetadinho. Como não conseguia sair de dentro da caixa ele continuou a se rebolar, nisso um botão saltou e grudou no lugar do seu nariz, um botão laranja como seu cabelo. Quase ao mesmo tempo um pedacinho de resto de lã vermelha deslizou pela bochecha e se aconchegou no lugar da boca criando assim um belo sorriso naquela carinha redonda.
Quando terminou o vestido, Josefina colocou a mão dentro da caixa procurando sua tesoura para cortar o fio que ainda o prendia à máquina mas sentiu que algo agarrou seu dedo.
-Meu Deus! Gritou Josefina espantada. –Tem alguma coisa se mexendo dentro da caixa!
Ao olhar para a caixa que estava no chão Josefina viu uma carinha redonda com lindos cabelinhos laranja, boca de fio de lã vermelha e nariz de botão olhando para ela. Era Tico, seu boneco tão querido. E ele estava vivo! Ela tirou o boneco de dentro da caixa e beijou a bochecha toda pintadinha de sardas.
-Ah, meu querido menininho de nariz de botão - suspirou.
Josefina ficou muito feliz porque agora não passaria mais sozinha aquela noite tão especial, ela teria Tico seu boneco amigo.
E os dois compartilhariam esse momento tão especial, mesmo que aquele milagre de natal durasse apenas uma noite.
Alessandra Magalhães é advogada e escritora de livros infantis. Cursou a Oficina do Livro Infantil no Solar do Rosário, Curitiba.
