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A ARTE DE CONTAR

15 mai 2014 às 10:41
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As boas histórias do dia a dia são engraçadas, tristes, alegres, trágicas e nos ensinam sobre o imponderável da vida. Particularmente as historiazinhas meio anedóticas que retratam espertezas, soluções inusitadas, personagens conhecidos. No entanto, quase nunca, quando escritas resultam em bons textos. É só colocar no papel esses causos ou contos e eles soam insossos, artificiais.

Mas se a literatura tem as raízes no cotidiano e folhas ao céu, por que diabos essas histórias não tem sabor? A resposta mais simples é que nem todo som é música, de repente pode ser apenas um barulho. Procede.

Julio Cortazar escritor argentino especializado em contos dizia que a Ilíada era uma coletânea de histórias de tribos gregas muito antigas, mas que Homero escolheu as que tinham mais ressonâncias, mais profundidade. E foram as que se perpetuaram e por mais de vinte e cinco séculos. Eis aí a condição da boa narrativa. Ela não dispensa a intervenção artística do narrador.

Talvez essa seja a melhor explicação para que histórias saborosas, contadas ao redor das fogueiras pelos tropeiros, vaqueiros, nas mesas de bar, nas varandas das casas simples de bairros não se tornem por si só boas histórias escritas.

Um conto só se torna conto artístico, parte da literatura, se houver intervenção do narrador. A ele cabe, não só a escolha da melhor história, a que se tornará mais comovente, tocará melhor a alma, mas também o jeito de contar, a escolha do melhor ângulo a ser apresentado.

O teatro Elizabethano, cujo maior de todos os dramaturgos foi Shakespeare, se alimentou dessas duas fontes: da "voz rouca das ruas," do mundo imperfeito e tumultuado das feiras, da erudição e profundidade da tragédia grega e da história. Sem a genialidade de um dramaturgo desse calibre, talvez Hamlet não passasse de um louco vulgar, Rei Lear apenas um velho meio amalucado. E a sabedoria mundana aprendida nas ruas imundas de Londres seria apenas anedota ou historiazinha vulgar que se esgotava em si mesma.
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