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ESTEPES E VEREDAS

09 mai 2014 às 14:34

Anton Tchekhov, nasceu em 1860, numa cidadezinha chamada Taganrog ao sul da Rússia. Cidade portuária onde circulavam marinheiros, comerciantes, alguns nobres em férias, gente de todo lugar. O comercio vigoroso era liderado por gregos muito ricos. A cidade se abria para as estepes.

Desde criança, o menino Anton ouvia histórias dos povos daquela região inóspita, de temperaturas extremas, de intermináveis planícies. Seus habitantes descendiam de etnias asiáticas, mongólicas e eslavas. As histórias devem ter despertado no menino essa paixão pelas imensidões e enormes espaços vazios.


Numa novela antológica, "A estepe" vê-se muitos traços autobiográficos. Escrita quando Tchekhov já era médico e escritor, descreve a trajetória de um menino que sai de uma pequena aldeia para um grande centro onde iria estudar. O menino, levado pelo avô numa caravana, se deslumbra com as intempéries, paisagens e tipos humanos que conhece ao longo da viajem. Trajetória semelhante ao jovem escritor, que seguiu para Moscou para estudar medicina.


Aqui no Brasil, no começo do século XX, nasce um menino, que se tornaria escritor genial, numa cidadezinha com um nome estranho também – Cordisburgo – em Minas Gerais. Esse menino, chamado João Guimarães Rosa, brincando nas ruas ao lado do comércio de seu pai, que como o pai de Tchekhov era também comerciante de "secos e molhados," ouvia dos peões das fazendas, dos donos de pequenas propriedades, vaqueiros e viajantes, histórias sobre habitantes daqueles amplos espaços vazios, cheios de nada chamado sertões. Ele também depois de trabalhar como médico no interior de Minas, decidiu viajar numa caravana, aqui chamada "comitiva" de vaqueiros, conduzindo uma boiada durante quase dois meses.


Essa viajem entrou de forma definitiva na sua narrativa, produzindo esse mundo mítico, de lugares e línguas tão próprias do sertão encantado de Guimarães Rosa.


As estepes russas e os sertões brasileiros, espaços amplos, vazios, de vastos silêncios, assim como o mar, de há muito tornou-se uma metáfora da alma humana. Onde tudo está por escrever, acontecer. Disse Guimarães Rosa que o sertão é dentro da gente.

As estepes também.


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