A guia de sepultamento do coronel da reserva Paulo Malhães sugere como causa de sua morte um ataque cardíaco. No documento, que é emitido para possibilitar o enterro da vítima, a causa mortis é descrita como "edema pulmonar, isquemia do miocárdio, miocardiopatia hipertrófica, evolução de estado mórbido [doença]".
O corpo do militar, que admitiu a prática de tortura durante a ditadura militar, foi enterrado na tarde de sábado (26), no Cemitério Municipal de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Ele morreu na sexta-feira (25), quando três homens invadiram sua residência, onde também estavam sua esposa e um caseiro, no interior do município. Do local, foram levadas diversas armas que Malhães colecionava.
No cemitério, parentes evitaram falar com a imprensa. "A gente enterrou hoje o pai, o esposo, o avô das meninas. O coronel, o tirano, é para vocês. Para gente, ficou só o pai. O coronel da ditadura não era este que a gente conhecia", disse a filha do militar, que se identificou apenas como Carla.
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O genro do coronel da reserva, Nelson Viana, disse que a família não tinha ideia do que realmente teria acontecido na casa do militar. "Dizem que foi um assalto. Nós não temos hipótese." Perguntado se Malhães sofria algum tipo de ameaça, Viana negou. "Ele nunca falou nada e a gente sempre respeitou isso. Nem antes, nem depois [do depoimento à Comissão Nacional da Verdade]. Ele sempre foi uma pessoa super reservada. Nunca comentou nada e a gente até foi surpreendido pelas entrevistas."
Em depoimento à comissão, há um mês, o coronel Malhães foi o primeiro militar a admitir prática de tortura, assassinatos e ocultação de cadáveres de presos políticos durante a ditadura militar, tendo inclusive falado sobre o destino do corpo do deputado Rubens Paiva, morto pelos militares em 1971, mas até hoje não localizado, que teria sido jogado ao mar.