O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães anunciou, durante reunião dos chanceleres do Mercosul, a sua decisão de deixar o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul, que ocupava desde janeiro de 2011. O anúncio já era de conhecimento do governo brasileiro, mas causou surpresa entre os integrantes do bloco. O delicado momento escolhido por Samuel, quando os países do bloco estão em pleno processo de aplicação de sanção ao Paraguai, causou desconforto ao Brasil, já que sempre haverá ligação de um problema ao outro.
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse à Agência Estadoque "lamenta" a decisão de Samuel de renunciar ao cargo. "Tentei convencê-lo a não renunciar", acrescentou. O Brasil não abrirá mão do cargo. O governo brasileiro vai escolher um outro nome para o lugar de Samuel, a fim de completar o mandato de três anos, que só termina em 2014. O nome do substituto, no entanto, ainda está em discussão.
Em sua fala, após fazer um balanço das atividades do Mercosul, Samuel Pinheiro comunicou: "estou renunciando ao cargo", justificando que "não estava tendo apoio político" para desempenhar suas tarefas. Além de comunicar a sua saída, Samuel entregou uma carta ao chanceler da Argentina, Hector Timerman, cujo país estava na presidência do bloco, listando as razões para sua saída. Ao informar aos colegas do Mercosul a sua saída, falou do desestímulo para continuar no cargo e explicou que a "falta de apoio político" era não só do Brasil, mas também dos três outros membros natos do Mercosul - Argentina, Uruguai e Paraguai - para a implementação de projetos para o bloco. Após o anúncio, Samuel deixou a reunião em Mendoza e retornou ao Brasil.
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Samuel revelou a alguns diplomatas que o consultaram que sua decisão nada tinha a ver com a sanção de suspensão ao Paraguai ou qualquer retaliação por causa do afastamento de Fernando Lugo. Mas havia especulações no meio diplomático dos países do bloco de que ele teria divergências em relação às decisões tomadas a partir da destituição de Fernando Lugo, no Paraguai.
O ministro Antonio Patriota, já havia sido informado da decisão de Samuel, mas ainda tentou demovê-lo da ideia até a ultima hora, sem sucesso. O ex-ministro da Secretaria Estratégica do governo Lula também já tinha comunicado a sua decisão há mais de um mês a outros integrantes do governo. Ele disse que estava desestimulado e que queria sair para cuidar das suas "coisa pessoais". Revelou, no entanto, que esperaria o final da gestão da Argentina e entrada do Brasil na presidência do bloco, para deixar o cargo. Só que o episódio da polêmica sobre o Paraguai, acabou criando um certo desconforto porque será mais um ingrediente no problema de aplicação de sanções ao país, em plena discussão entre os países do bloco.
Fontes diplomáticas dos países sócios revelaram que também Samuel Pinheiro "perdeu apoio dos países, especialmente do Brasil, para cumprir com seu mandato". De acordo com estas fontes, "depois de um ano no cargo, ele ainda não havia fixado residência em Montevidéu, onde está a sede da Secretaria do Mercosul, e nem mesmo conseguiu aprovar o orçamento para a Secretaria", comentou uma fonte ouvida pela Agência Estado.