No quarto dia de greve da Polícia Militar do Espírito Santo, a sensação de insegurança ainda domina a população: ônibus circularam parcialmente, empresas liberaram funcionários, poucos se arriscaram a sair de casa, e apenas parte do comércio abriu. A Federação do Comércio avalia o prejuízo em pelo menos R$ 110 milhões (R$ 20 milhões de saques e R$ 90 milhões em vendas perdidas). Ao todo 270 lojas foram roubadas.
Moradores continuaram a compartilhar nas redes sociais imagens de assaltos à luz do dia. À noite, os terminais de ônibus fecharam. Só na segunda-feira (6), 6, 200 carros foram roubados no Estado, ante a média diária de 20. E a situação pode piorar: a Polícia Civil decide na quinta-feira (9) se adere à greve. E o Sindicato dos Rodoviários anunciou que os ônibus não circularão nesta quarta. Segundo Edson Barros, presidente do sindicato, um motorista foi obrigado, na mira de revólver, a usar o ônibus para invadir uma loja.
O reforço da Força Nacional e dos militares do Exército e da Marinha só foi sentido no fim do dia. Pela manhã, com as tropas ainda em deslocamento, a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo circulou pelo Centro e não viu policiamento. Nesta terça-feira, apenas 500 policiais militares foram às ruas em todo o Estado. Em circunstâncias normais, o efetivo seria pelo menos quatro vezes maior apenas na Grande Vitória.
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A reportagem circulou por quatro bairros de Vitória (Praia de Camburi, Praia do Canto, Jardim da Penha e Maruípe) durante a noite e constatou que praticamente não havia movimento de pessoas nem veículos. Nenhum agente nem viatura foi visto, mas caminhões do Exército ainda circulavam nas imediações do Quartel Central da PM.
Segundo o secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, André Garcia, "a situação está se normalizando" e deve regularizar-se nesta quarta. O novo comandante-geral da Polícia Militar, coronel Nylton Rodrigues, determinou que todos os agentes se apresentem diretamente no local onde farão o policiamento. A alternativa, contudo, não resolve totalmente o problema, já que os PMs terão de fazer o patrulhamento a pé.
O Ministério Público Estadual constituiu nesta terça um comitê de gestão de crise para garantir o cumprimento voluntário da decisão judicial sobre a greve. A Justiça capixaba já considerou a paralisação ilegal.
Protesto
Ainda nesta terça-feira, um grupo de pessoas reclamou da paralisação na frente do Quartel Central. A maioria se disse sensível à causa dos PMs, mas todos relataram que o caos na segurança pública, que se instalou desde sábado, afetou o trabalho e, consequentemente, as finanças da casa.
"Desde sábado não vejo uma única moeda", contou o serralheiro autônomo Ronaldo Baldan Ferreira, de 46 anos. "Faz três dias que não trabalho. Tenho medo de sair para a rua e não voltar. Como vou ter certeza de que não vai aparecer um bandido?" Ele proibiu a família de ir para a rua. "Eles (PMs) estão no direito de protestar. Só não pode acontecer isso que está acontecendo aqui."