Maior evento católico do país, o Círio de Nazaré, que se realiza há 219 anos pelas ruas centrais da capital do Pará, mobilizou neste domingo (9) cerca de 2,3 milhões de romeiros, durante seis horas, num percurso de 4,6 quilômetros. Símbolo da fé e do sacrifício humano, a corda de 400 metros que tradicionalmente é conduzida por dez mil pagadores de promessas, este ano, a pedido do arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira, não foi cortada até que a santa chegasse a seu destino, a Praça do Santuário.
Ano passado a corda foi cortada a golpes de estilete e faca e ao romper-se levou ao chão dezenas de pagadores de promessas, provocando fraturas e ferimentos. Emocionado por comandar pela primeira vez a procissão, Taveira foi enfático ao dar a bênção aos romeiros: "não existe repetição do Círio, eu vivo sempre como se fosse a primeira vez".
O pescador Raimundo Oliveira percorreu a pé 150 km, do município de Mãe do Rio, até Belém, para pagar uma promessa. Ele conseguiu um lote de terra e já começou a construir a casa onde pretende morar com a mulher e cinco filhos. "Participei de duas invasões de terra, apanhei da polícia, e fiz uma promessa para a santa se conseguisse um canto para viver com a minha família. Consegui e vim agradecer". A cozinheira Evandra Maria Bastos, de 56 anos, disse que teve um "problema grave" na garganta e que foi curada pela Virgem de Nazaré. Pagou a promessa carregando uma cruz feita de isopor.
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"Nunca vi coisa igual no mundo. Já estive em Fátima, em Portugal, e em Lourdes, na França, acompanhando peregrinações católicas. Também conheço a peregrinação muçulmana à Meca, mas nada se iguala ao mar de gente que encontrei no Círio de Nazaré. A fé do povo paraense contagia e emociona qualquer um", declarou o empresário catarinense Romeu Tadeshi, de 67 anos. Ele estava no meio da multidão, distribuindo água aos peregrinos.
O ex-governador de São Paulo José Serra, que veio a Belém pela segunda vez para acompanhar o Círio a convite do governador paraense Simão Jatene, disse que estava "muito emocionado". Para ele, não há nada parecido. "É um grande ato de fé, que à distância a gente não tem ideia de como é. Milhões de pessoas na rua que se organizam sem precisar de muita organização", resumiu o político.
Cerca de 15 mil homens das Polícias Militar, Civil, e das Forças Armadas garantiram a segurança dos romeiros, enquanto quatro mil voluntários da Cruz Vermelha registraram mais de 800 atendimentos às pessoas que sofreram quedas, passaram mal e desmaiaram durante a procissão devido ao forte calor. Uma mulher sofreu aborto e foi levada para o Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti.