Os Ministérios Públicos Federal e Estadual do Rio de Janeiro investigam o que houve com uma índia de 16 anos, nativa de uma tribo na Amazônia, que foi encontrada há cerca de um mês vagando pelas ruas de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Havia suspeitas de que a jovem teria sido estuprada, mas exame de corpo de delito atestou que não houve qualquer tipo de violência sexual.
O suposto estupro e abandono da jovem está sendo investigado pelo MP estadual. O caso tramita em segredo de Justiça na Vara da Infância e Juventude de Caxias. Já o MPF investiga como a adolescente, da tribo Andirá-Marau, da etnia Sataré-Mawé, na divisa do Amazonas com o Pará, foi parar no Rio.
A indígena, que fala português precariamente e teria problemas mentais, foi achada por um caminhoneiro, que a entregou ao Conselho Tutelar de Caxias. Os conselheiros suspeitaram que ela tivesse sido vítima de estupro, e a levaram à Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam). A suspeita foi descartada após exame no Instituto Médico-Legal. No abrigo, a jovem contou que saiu há mais de um ano da sua tribo e foi para Brasília com um irmão, que era missionário da ONG evangélica Atini, que luta contra infanticídios em aldeias indígenas. Na ocasião, ela estava grávida e teve a filha em Brasília. A criança foi entregue para adoção, informou a missionária responsável pela vinda da jovem ao Rio a policiais civis, mas a adolescente diz não saber o paradeiro da filha.
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Em seguida, ela foi para Caxias, onde ficou hospedada na casa dessa missionária, ligada à ONG Jovens Com Uma Missão (Jocum). Segundo a Polícia Civil, a adolescente fugiu da casa, e foi encontrada depois pelo caminhoneiro. O nome da missionária não foi divulgado. A reportagem entrou em contato com um dos dirigentes nacionais da Jocum, o diretor operacional Gilberto Botelho de Mello. Ele informou que não tinha conhecimento do caso, que estaria sendo acompanhado por Cleonice Barbosa, da Jocum Porto Velho, responsável pelas questões indígenas. Procurada pela reportagem, Cleonice não retornou a ligação. Nenhum responsável da Jocum no Rio de Janeiro quis comentar o episódio.
A presidente do conselho da Atini, Márcia Suzuki, confirmou, por e-mail, que conhece a jovem, mas que não tinha informações sobre o que havia ocorrido com ela em Duque de Caxias. A Funai informou que não foi comunicada pela ONG sobre a fuga da adolescente nem sobre o fato de ela ter sido abrigada numa instituição municipal. O órgão iniciou uma investigação antropológica, que indicará ainda para onde a jovem deve ser encaminhada.
Segundo a Funai, a terra indígena Andirá-Marau é regularizada e tem 788.528 hectares. Foi homologada em 1986. Do tronco linguístico Tupi, são conhecidos como inventores da cultura do guaraná, por terem criado processo de beneficiamento da planta. Há registros de contatos com o homem branco desde século XVII.