Uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio para combater o tráfico de drogas no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, revelou um esquema de extorsão a traficantes praticados por 22 policiais militares do 7º Batalhão de Polícia Militar de São Gonçalo, cujos valores exigidos chegavam a R$ 20 mil.
Hoje, 330 agentes federais foram mobilizados para cumprir 46 mandados de prisão e 51 de busca e apreensão. Entre os mandados de prisão, estavam os nomes dos cabos Carlos Adílio Maciel Santos e Jovanis Falcão Júnior, que já estão presos acusados de participação na execução da juíza Patrícia Acioli, morta na porta de casa com 21 tiros, no dia 11 de agosto deste ano. A operação foi batizada de "Martelo de Ferro" em homenagem à magistrada.
Dos 22 PMs acusados, 18 já estavam presos. Dois foram detidos hoje, um está foragido e um morreu de causas naturais antes da operação. De acordo com a denúncia do MP do Rio, os policiais prendiam os traficantes, mas possuíam uma tabela para a libertação dos criminosos.
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Um "vapor" (responsável pela entrega de drogas) era libertado por no mínimo R$ 500, o gerente do tráfico quando detido pagava entre R$ 2 mil e R$ 5 mil para não ficar na prisão. No caso do chefe do tráfico, a propina para a liberação poderia chegar a R$ 20 mil.
"Iniciamos as investigações em 2009. No entanto, após a ocupação do Complexo do Alemão pelo Exército, em 2010, alguns dos traficantes foram para o Complexo do Salgueiro, que funciona como um grande entreposto do tráfico de drogas para a Região Metropolitana do Rio", afirmou o delegado da PF Victor Hugo Poubel.
O traficante Fábio Alves de Andrade, o Tatai, é apontado como responsável pela ligação entre os traficantes do Complexo do Salgueiro, ligados ao Comando Vermelho, e a facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital, que fornece drogas e armas para a quadrilha do Rio.
Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça mostram que os policiais militares Claudio de Souza Pereira e Adriano de Oliveira Luz cobraram R$ 10 mil para liberar o traficante Marcelo Rosa de Souza, o Rosão, no dia 21 de maio do ano passado. Após tensa negociação, os traficantes pagaram R$ 5 mil, mas como não receberam o valor integral, os PMs levaram Rosão à delegacia.
Em 2009, o PM Jocely da Silva Pereira cobrou R$ 500 do traficante Marcelo da Silva Leitão, o Marcelo BG, para liberar um baile funk. Em outra gravação, o PM Geovane Gomes das Silva exige o mesmo valor do traficante Renato Muniz da Costa Freire, o Acanhado, para não reprimir a venda de entorpecentes durante o final de semana e promete "segurar" o policiamento
"Há uma suspeita genérica do envolvimento de oficiais da PM, mas optamos por acusar na denúncia os policiais cujo envolvimento com os criminosos pode ser comprovado por provas materiais, no caso as escutas telefônicas", afirmou o promotor Daniel Faria Braz, subcoordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, em referência ao fato de nenhum oficial da PM ter sido preso.
A PF ainda investiga uma das negociações por telefone para liberar um traficante, que terminou com a execução do criminoso, após os comparsas não efetuarem o pagamento do resgate exigido pelos policiais. O MP aponta que quando contrariados os policiais executavam os traficantes e registravam as mortes nas delegacias como "autos de resistência". Os promotores apontam que os policiais também vendiam aos traficantes armas do chamado "espólio de guerra", armamento apreendido em outras favelas.
Quatro mulheres, disse a Polícia, integravam a quadrilha, entre elas a advogada Diva Gouveia Cunha, de 41 anos. Ela é acusada de transmitir as ordens do chefe do tráfico Antônio Ilário Ferreira, o Rabicó, atualmente preso no Presídio Federal de Mossoró, no Rio Grande Do Norte.