Ao retornar para o Senado um dia depois de pedir exoneração do Ministério do Planejamento, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) foi alvo de duas representações, uma com pedido de cassação de mandato no Conselho de Ética do Senado e outra de investigação na Procuradoria-Geral da República.
As representações têm como base a gravação na qual o peemedebista conversa com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e sugere a ele um pacto para estancar as investigações da Lava Jato. A elas se soma a representação feita na segunda-feira, 23, pelo PSOL também na Procuradoria-Geral da República, que pede a prisão do senador peemedebista. Para os autores das três ações, na conversa houve tentativa o senador peemedebista de obstrução das investigações da Operação Lava Jato.
No Conselho de Ética, o pedido de cassação feito pelo PDT contou com a assinatura do senador Telmário Mota (RR), inimigo político de Jucá em Roraima e com quem o peemedebista passou o dia de ontem trocando insultos públicos de "bandido". No documento de sete páginas, os autores afirmam que "é clara - sem sombra de dúvidas - a intenção do senador denunciado de buscar proteção pessoal e se esquivar do alcance das investigações, mediante um grande acordo".
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O documento diz que o caso de Jucá é semelhante ao de Delcídio Amaral (sem partido-MS), que foi preso e acabou cassado após a divulgação de áudios em que ele foi flagrado articulando para obstruir o trabalho dos investigadores da Lava Jato. A ação contra Delcídio foi relatada por Telmário.
À Procuradoria, PT, PDT, Rede, PC do B e PPS pedem a instauração de procedimento administrativo para apurar o teor da conversa entre Jucá e Machado. Para os 15 senadores que assinam o pedido, Jucá agiu para obstruir a Lava Jato e buscou influenciar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
"Pedimos que a PGR dê celeridade a esse processo. A conversa deixa muito claro que ele constrói todo um ambiente para viabilizar o impeachment da senhora presidente e, ao mesmo tempo, para impedir o andamento das investigações pela Lava Jato", disse o senador José Pimentel (PT-CE).
Jucá esteve na abertura da sessão de ontem do Congresso que apreciou os vetos presidenciais. Ele subiu à tribuna para repetir os argumentos de que na conversa com Machado não fez nenhuma ação para impedir a Lava Jato.
"Falei com ele apenas como senador da República", disse antes de reforçar que não cometeu nenhum ato de "irresponsabilidade".
O ex-ministro disse ainda que encaminhou ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, uma correspondência onde solicita informações sobre possíveis crimes em sua fala com Machado. A fala do peemedebista foi alvo de críticas de parlamentares que fazem oposição ao governo em exercício, como a senadora Vanessa Graziotin (PCdoB-AM) e a deputada Maria do Rosário (PT-RS). Após os questionamentos, Jucá desistiu de permanecer no plenário e seguiu para seu gabinete, de onde disparou telefonemas para senadores aliados. "Não quero atrapalhar as votações de interesse do governo com essa discussão monotemática", disse.
'Bandido'
Ao saber da representação, Jucá disse que o pedido de sua cassação é uma "brincadeira" e desqualificou os autores. "Qualquer representação é legítima. Agora, se nós formos ver os autores, um dos autores é um bandido, que a mulher está sendo presa hoje, provavelmente, o senador Telmário Mota, porque roubou dinheiro na Assembleia Legislativa para sustentá-lo", disse. Sobre Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, Jucá disse que ele "não merece nenhum tipo de comentário".
Em resposta, Telmário disse que Jucá "vive na bandidagem e acha que todo mundo é bandido igual a ele". Segundo o senador do PDT, os processos contra sua esposa, condenada em segunda instância, ainda não foram encerrados.