Brasil

'Sul é o Meu País' se ampara em argumentos econômicos e políticos e tem até mascote

05 out 2017 às 18:02

Um plebiscito informal para saber se a população sulista deseja se separar do restante do Brasil será realizado neste sábado (7) em mais de 900 cidades brasileiras, incluindo Londrina.

O Sul é o Meu País, que promove o plebiscito, é uma associação privada sem fins lucrativos, que tem como propósito alcançar a secessão de forma pacífica. O movimento nasceu em 1992 em Laguna (SC).


De acordo com Marcos Santos, representante do movimento em Londrina, o principal motivo para a separação é a questão econômica. "Do total de impostos arrecadados pelos três Estados, não temos retorno financeiro de 23%. Em dados nacionais, Brasília fica com 80% dos impostos gerados pelos municípios, devolvendo o mínimo para os Estados e estes devolvem menos ainda para os municípios, gerando pobreza progressiva e irreversível entre todas as regiões brasileiras, inclusive a sulista, que é a segunda maior região arrecadadora do país."


O jornalista Carlos Deucher, catarinense, é um dos fundadores do movimento. Segundo ele, a questão política é outro ponto importante para a separação. "O simples fato de você ter nascido no Paraná faz você valer 48 vezes menos que um cidadão brasileiro, porque temos uma representação parlamentar totalmente distorcida. O José Sarney [PMDB - MA] se elegeu senador da república com 152 mil votos enquanto o senador Pedro Simon [PMDB - RS] teve de fazer 1,8 milhão de votos para se eleger senador."


Legalidade da separação?


Marcos Santos disse que a separação tem caráter legal, embasado nos artigos 4º e 5º da Constituição Federal de 1988, que confere o direito de autodeterminação dos povos e o direito e a liberdade de pensamento e organização para divulgá-lo e expressá-lo.


Marcos afirmou ainda que a votação deste sábado é informal, mas que acredita nas pressões populares para formar um novo país. "Acreditamos que futuramente, com maiores pressões da população e com exemplos como o da Catalunha e de outros países que conseguiram separação, tenhamos chance maior de nos separarmos do restante do Brasil. Em 2016 realizamos um plebiscito que foi proibido pela Justiça Eleitoral de Santa Catarina, sob a alegação de que tentar separar parte do território nacional é crime. Por esses motivos, a votação tem somente caráter de mobilizar a população."


Mário Sergio Lepre, cientista político, argumentou que o artigo 1º da Constituição determina que a República é formada pela união indissolúvel dos Estados, municípios e Distrito Federal. "Legalmente falando, é impossível. A indissolubilidade está na Constituição. Ela não pode ser alterada."


O doutor em direito constitucional Zulmar Fachin também relatou que a Constituição veda que os Estados se retirem da Federação. "Não se admite o chamado direito de secessão. É cláusula pétrea. Nem mesmo por emenda constitucional isso é possível. Não pode haver uma emenda constitucional para autorizar alguns membros do pacto federativo a saírem para constituírem outro país."


Mário disse acreditar que o plebiscito é inoporturno e fora de propósito. "É típico de alguns que acham que o Sul seria menos corrupto, típico de pessoas que não querem colaborar com a solução dos problemas. São pessoas que acham que o enfrentamento é bater na mesa."


O novo país


O movimento não tem ainda um projeto de país pronto. No entanto, Carlos Ducher antecipou que Lages (SC) poderia ser a capital. "Talvez, se um dia a gente for um país, a gente poderia ter uma capital em Lages. Colocar ali três prédios para ser a capital administrativa do país, mas é uma opinião pessoal minha."


Outra ideia de Carlos é acabar com o sistema presidencialista e ir para o parlamentarismo no novo país do Sul. "Assim podemos em questão de dias derrubar governos corruptos. Nós somos tão corruptos quanto o Brasil e, se não criarmos um sistema que não deixa o corrupto sobreviver, tenho certeza que vamos ser um país muito melhor."


Ainda segundo Carlos, o novo país deveria formar uma confederação municipalista. "Uma República confederada municipalista na qual temos só a União e o município. Oitenta porcento de tudo que é arrecadado têm de ficar no município."

O mascote do Sul é meu País, o "Sulito", ainda existe. Segundo o movimento, ele sofreu algumas repercussões negativas na mídia, virando até meme em alguns casos, mas continua firme no posto de mascote da causa.


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