Um em cada quatro brasileiros diz que conhece mulheres vítimas de violência doméstica praticada por parceiros íntimos, como namorados, maridos e ex-companheiros.
A estimativa é de pesquisa Datafolha sobre percepções da violência encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pela Folha de S.Paulo.
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Essa parcela da população (27%) corresponde a quase 45 milhões de pessoas em todo país, e as respostas se referem a agressões praticadas num período de 12 meses anteriores à data da pesquisa. É o crime citado com mais frequência entre 18 situações diferentes aferidas pelo instituto, que vão de assaltos à presença de cemitérios clandestinos nos bairros.
O Datafolha entrevistou 2.508 pessoas com mais de 16 anos em todas as regiões do Brasil entre os dias 11 e 17 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
A violência doméstica é relatada em proporção maior pelas próprias mulheres (31% das entrevistadas respondem afirmativamente) do que entre homens (22%). É também exposta pelos jovens com maior frequência do que pelos mais velhos.
O mesmo ocorre entre os mais escolarizados, em relação a quem teve menos ensino formal. Dos entrevistado com ensino superior completo, 36% afirmam que conhecem vítimas de violência doméstica. Entre aqueles que estudaram até o fundamental, 18% dizem o mesmo.
A violência contra a mulher é um fenômeno crescente no Brasil, ressalta a socióloga Isabele Matosinhos, pesquisadora do Fórum, com base em dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. "Todas as formas de violência contra a mulher aumentaram em 2023, segundo registros oficiais", ela escreve, em artigo feito com base nos dados da pesquisa.
O Datafolha perguntou se os entrevistados foram vítimas de uma série de crimes no período de 12 meses que antecedeu a pesquisa , como agressões, sequestros relâmpago, assaltos e furtos de celular. As vítimas de agressão são 5% do total de entrevistados, e as mulheres são maioria (56%) entre aqueles que admitem ser sido vítimas desse crime.
Esses resultados apontam para um cenário ainda pior do que é retratado nas estatísticas oficiais, que já apontavam um número alto de agressões contra mulheres.
"Estamos falando de pelo menos 2,4 milhões de mulheres brasileiras que sofreram agressão física entre junho de 2023 e junho de 2024", diz a socióloga. Em contraste, foram 258.941 registros de lesão corporal dolosa em contexto de violência doméstica contra mulheres no ano passado, segundo o Anuário.
As duas estatísticas não são diretamente comparáveis, ela enfatiza, pois há diferenças na coleta desses dados e na definição de cada ocorrência. No entanto, mostram a discrepância entre os dados oficiais e o que é possível aferir com base nos relatos da própria população.
Os casos de lesão corporal contra mulheres, ela calcula, correspondem a 709 registros por dia. Já a pesquisa de vitimização do Datafolha aponta para 6.790 agressões físicas a cada dia no período de 12 meses pesquisado.
"Essa aproximação mostra, entre outros aspectos, a insuficiência das estatísticas oficiais para medir o fenômeno da violência contra mulheres, a importância de pesquisas de vitimização, além de reforçar a necessidade da expansão e aprimoramento de políticas públicas de proteção", completa.
Neste ano, o Anuário já havia apontado para um recorde de violência contra mulher: um estupro foi registrado a cada 6 minutos no Brasil ao longo do ano passado.
O número leva em conta apenas os casos que foram denunciados às autoridades policiais e incluem tanto estupro quanto estupro de vulnerável, como são classificados os casos no qual a vítima tem menos de 14 anos ou quando ela não tem condição de consentir.
O dado representa um aumento de 6,5% dos casos comparados com 2022. Quando observada a série histórica, que teve início em 2011, houve um aumento de 91,5% de registros. Ao todo, o Brasil registra 38 mil presos, 37.870 são homens e 628 mulheres pelos crimes de estupros, sendo que 25 mil foram condenados por estupro de vulnerável.