Com renda igual ou menor que a do ano passado, o consumidor brasileiro está tendo que se virar para garantir o arroz e o feijão de todos os dias. Itens básicos no cardápio da maioria das famílias, os dois produtos apresentaram alta significativa nos últimos 12 meses.
O arroz aumentou 84% e está sendo vendido ao preço médio de R$ 9,59 o saco de cinco quilos. Em junho do ano passado, a mesma quantidade custava R$ 5,21. O quilo do feijão passou de R$ 1,69 para R$ 2,62, perfazendo alta de 55%. As informações são do engenheiro agrônomo Richardson de Souza, do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab).
Com preços tão altos, muita gente está deixando de consumir. Na Corretora Correpar, em Curitiba, as negociações de arroz diminuíram de 10% a 15%. ''O mercado consumidor é o termômetro dos negócios. Se não há consumo não há compra e venda'', disse o operador de mercado José Santos. As negociações de feijão, segundo o corretor Danilo Rent, reduziram em até 20%.
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A valorização das commodities, principalmente a soja, têm influência direta sobre essa conjuntura. De acordo com Santos, os produtores estão capitalizados por causa dos altos preços da oleaginosa e por isso, vendem arroz em pequenas quantidades a espera de novas valorizações.
A consequência é que a oferta diminui e mantém os preços estáveis em plena safra, quando o normal é haver queda na cotação. Além disso, as culturas de arroz e feijão, apesar de se manterem estáveis, não acompanharam o crescimento da produção de commodities.
Outro fator é que o Brasil depende da importação de arroz para garantir o abastecimento. O País consome 12 milhões de toneladas e deve produzir, em 2003, cerca de 10 milhões de toneladas, graças à quebra na produção do Rio Grande do Sul, que é o maior produtor nacional. Como o arroz argentino é mais caro, acaba nivelando o preço do produto nacional. A saca do arroz agulhinha, nesta terça-feira no Paraná, estava cotada a R$ 39,00. Há um ano, o preço era R$ 18,80, indicando alta de 107%.
Richardson informou que a despeito da importância do arroz para a alimentação do brasileiro, não há qualquer programa do governo federal específico para estimular a cultura. Ele acredita, porém, que o desenvolvimento de programas sociais como o Fome Zero devem incentivar a produção interna dos alimentos que integram a cesta básica. ''As classes menos favorecidas acabam ficando à margem do consumo'', comentou.
No caso do feijão, as notícias são mais animadoras. O engenheiro agrônomo revelou que o preço da saca ao produtor, que chegou a custar R$ 97,00 no início do ano, estava cotada a R$ 64,00 nesta terça, o que indica queda de 34%. ''A desvalorização deve chegar ao varejo'', observou, explicando que a queda resulta da perspectiva de aumento de oferta. ''A segunda safra brasileira está sendo muito boa.''
Para o corretor Danilo Rent, o consumo de feijão ainda não melhorou porque os preços continuam altos no varejo. ''Os supermercados tem ganância por maiores margens'', criticou.