O município de Campo Largo já começou a sentir os reflexos do irrisório desempenho da fábrica da Chrysler no Paraná. Mesmo antes da redução na produção da unidade, o crescimento acelerado da população local gerava problemas sociais para a prefeitura. Sem contar os possíveis desempregados diretos e indiretos, existe a necessidade de investimentos públicos na maior demanda por saúde pública, equipamentos urbanos e ensino escolar. Esses são apenas alguns dos problemas que estão sendo enfrentados pela administração municipal.
Segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1991 Campo Largo tinha 82 mil habitantes. Em 2000 ela havia ultrapassado os 93 mil. Além disso, existe o risco da redução de postos de trabalho no setor comercial com o desaquecimento da indústria local. O comércio de Campo Largo emprega cerca de 4 mil pessoas. Esse setor é o segundo maior empregador do município, perdendo apenas para a indústria da cerâmica.
Para o presidente do Sindicato dos Comerciários da Região Metropolitana de Curitiba, Ariosvaldo Rocha, os primeiros impactos do fechamento da Chrysler serão no comércio. "Estamos levantando os números, mas sabemos que o estrago será grande, pois nos últimos anos a cidade vinha se preparando para um aquecimento na economia local", afirma.
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O prefeito de Campo Largo, Afonso Portugal Guimarães (PSDB), está preocupado com os impactos sociais em todo o município. Segundo o ouvidor da prefeitura, Juridis Caldartt, que foi Secretário Municipal de Indústria e Comércio entre 89 e 93, Campo Largo doou o terreno para construção da fábrica e concedeu isenção de quatro anos no pagamento de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e no Imposto Sobre Serviços (ISS) para a Chrysler. "Com a propaganda do governo sobre as novas montadoras na região metropolitana, famílias de todo o País se mudaram para Campo Largo em busca de emprego", diz.
Segundo o ouvidor, desde o início da instalação a Chrysler não vinha cumprindo os compromissos previstos no protocolo de intenções. "Ela deveria ter contratado 450 funcionários e ficou nos 250, tinha que fabricar 40 mil unidades ao ano e nunca passou de 5 mil, esperávamos um aquecimento geral na economia local para cobrir o ônus do crescimento da população mas isso também não aconteceu."
Para o ouvidor, o fracasso da política de desenvolvimento industrial em Campo Largo deve-se a equívocos do governo do Estado. "Em 91, quando eu era secretário de Indústria e Comércio, solicitamos ao governo do Estado incentivos para a modernização da indústria de cerâmica local, mas eles nunca se interessaram por isso." No início da década, o setor ceramista de Campo Largo empregava 8 mil funcionários, sendo um dos maiores do País. Com a abertura do mercado mundial e a falta de condições para modernização das indústrias locais, o município perdeu competitividade. Hoje o setor gera 5 mil empregos (20 vezes mais que a Chrysler) e ainda é o mais importante para a economia local.
Quando era secretário, Juridis lembra que a prefeitura incentivou a instalação de duas empresas em seu distrito industrial. Uma fábrica de concreto, que gera 70 empregos e uma metalúrgica, que tem 80 postos de trabalho. Para conseguir a geração de 150 novos empregos o município investiu R$ 30 mil, incluindo a doação dos terrenos. "Enquanto isso, o governo do Estado gastou mais de US$ 350 milhões na Chrysler para termos mais 250 postos de trabalho.