O anúncio oficial do fechamento da montadora Chrysler, há duas semanas, pela diretoria da empresa ao governo do Estado reacendeu os questionamentos em torno da política de incentivos fiscais para atrair grandes grupos. O governo e a prefeitura de Campo Largo deram dilação para o recolhimento de impostos, doaram parte do terreno para a fábrica, fizeram a terraplanagem para instalação da fábrica, construíram subestação de energia e fizeram obras de infra-estrutura.
O cálculo preciso de quanto foi gasto não é revelado pelo governo, mas há uma estimativa de que foram mais de R$ 7 milhões, boa parte bancada pelo município. Há ainda cerca de R$ 3 milhões em impostos estaduais e municipais não recolhidos pela empresa. O valor, no entanto, será devolvido pela Chrysler ao governo e ao município, conforme estabelece o protocolo para instalação da montadora.
Somente a prefeitura de Campo Largo foi obrigada a doar 20% do terreno para a Chrysler, o que representou um desembolso de R$ 1,85 milhão. O valor está corrigido, pois era R$ 1,2 milhão em 1997. Como o município não tinha recursos, o governo ofereceu a linha de financiamento do Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE). O dinheiro foi tomado como empréstimo.
Hoje, Campo Largo tem uma dívida com o FDE que tem de ser paga até dezembro. O município espera que a Chrysler cumpra a promessa e devolva os 20% recebidos em doação. "Eles nos disseram que vão devolver o dinheiro", afirma o prefeito de Campo Largo, Affonso Portugal Guimarães (PSDB).
Quando receber a quantia, o prefeito pretende investir o dinheiro para a construção de um novo parque industrial na cidade que possa atrair empresas de menor porte, mas que gerem emprego e tributos municipais. Guimarães quer renegociar o prazo para o pagamento da dívida com o FDE.
Dos investimentos feitos pelo governo e município para atração da Chrysler, muitos poderão ser aproveitados. Este é o caso da subestação de energia que foi feita em parceria entre Copel e Cocel (Companhia de Energia de Campo Largo). Somente a Cocel injetou R$ 2,5 milhões na obra que levou energia para a fábrica.
"Com esse dinheiro poderíamos pavimentar todo o perímetro urbano da cidade", compara o diretor-superintendente da Companhia de Desenvolvimento de Campo Largo, Edson Leucz. Ele reconhece que o dinheiro gasto não está perdido, mas diante da lista de prioridades que Campo Largo tem, foi um recurso mal empregado. Como a fábrica foi instalada numa região próxima à rodovia BR 277, não foram necessários investimentos em tubulação para gasoduto e em infovias, pois elas já existiam.
Outro investimento que pesou foi o dos serviços de terraplanagem. O programa de incentivos do governo previa a realização das obras de terraplanagem, conforme informação divulgada, na época, pela Secretaria de Indústria e Comércio. O serviço foi feito pela Trena Terraplanagem que foi subcontratada pela Construtora Lavita. O dono da empresa Marcel Daher disse que recebeu US$ 2 milhões (na época R$ 2 milhões) para fazer o serviço, que levou seis meses para ficar pronto. "Recebi o dinheiro da construtora, mas não sei quem pagou para ela". A Folha não conseguiu contato com a empresa.
Geradores de EmpregosNúmero de empregos gerados com R$ 1 milhão em investimentos
Setores - Emprego Direto - Emprego Indireto
Vestuário - 118 - 21
Agropecuário - 88 - 25
Comércio - 60 - 12
Calçados - 48 - 30
Madeira e mobiliário - 37 - 38
Construção civil - 20 - 12
Celulose e papel - 11 - 25
Artigos plásticos - 11 - 10
Fabricação de açúcar - 11 - 62
Máquinas e equipamentos - 10 - 12
Indústria têxtil - 09 - 23
Benef. prod. vegetais - 09 - 66
Abate de animais - 08 - 74
Peças e outros veículos - 07 - 19
Indústria do café - 07 - 74
Material Elétrico - 06 - 18
Equipamento eletrônico - 05 - 12
Indústria de laticínio - 05 - 67
Automóveis e caminhão - 02 - 17
Fabricação óleo vegetal - 02 - 71
Fonte: BNDES
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Dinheiro PúblicoValores investidos e impostos postergados para a Chrysler
Benefícios - Doador - Quantia
Doação de 20% do terreno - Município - R$ 1,85 milhão
Subestação energia - Copel e Cocel - R$ 2,5 milhões
Terraplanagem - Estado - R$ 2 milhões
Melhorias de transporte urbano - Município - R$ 70 mil
Postergação do IPTU e ISS - Município - R$ 1,5 milhão
Postergação do ICMS - Estado - R$ 1,1 milhão