Meus leitores mais assíduos já devem ter observado que trato com frequência da necessidade de
mudança nas universidades públicas para desenvolver tecnologias e inovações. Da mesma
maneira, também defendo constantemente a necessidade de tornar a inovação menos “coisa de
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almofadinha” e mais povo. Pode parecer papo de político em período de campanha, mas não é.
Inovação precisa descer do pedestal e para isso a pesquisa científica tem um papel fundamental.
Um grupo de docentes da Universidade Estadual de Londrina (UEL) deu um grande passo nessa
direção. Integrantes do Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Resíduos da UEL (Ninter),
liderados pela professora Lilian Aligleri, do Departamento de Administração, assinaram um
termo de licenciamento com a startup Ecoleta, incubada na Agência de Inovação Tecnológica da
UEL (Aintec). O documento prevê que a Ecoleta receba resultado de pesquisa de docentes da
UEL para a criação de centrais de coleta multisseletiva em condomínios residenciais. Projetado
e desenvolvido pelos docentes, a central busca separar, acondicionar e destinar adequadamente
resíduos.
Segundo a professora Lilian, a tecnologia social de separação e coleta multisseletiva
desenvolvida pelo grupo reorganiza o espaço físico de acondicionamento dos resíduos
domiciliares. “Buscamos também educar e responsabilizar os moradores para que contribuam
no manejo e separação adequada pós-consumo nas residências”, explica. Ela faz questão de
salientar que o licenciamento da tecnologia social é importante para que esse modelo possa ser
replicado em escala e, quem sabe, se tornar referência para outras cidades do país. “Caso não
fizéssemos isso, estaríamos restringindo nosso trabalho de pesquisa às publicações acadêmicas.
Cabe a nós como universidade propor novos modelos e tecnologias que contribuam para
resolver problemas sociais, mas nós como universidade não temos condição de implementar
isso em escala”, argumenta.
Conforme a representante da startup Aline Peralta, a ideia é levar aos condomínios soluções em
resíduos. “Incluindo estruturação física do espaço, comunicação, informação,
educação/sensibilização dos moradores, conexões com cooperativas e canais reversos de
materiais especiais, monitoramento e aperfeiçoamento dos resultados e ainda feedback para os
clientes”, detalha a empreendedora.
Mais que levar para o mercado, a inovação social, gerada pelos docentes, pode mudar o sistema
de coleta seletiva de Londrina. A tecnologia social de separação e coleta multisseletiva em
condomínios residenciais está em discussão no Grupo de Trabalho da Coleta Seletiva, composto
por membros da UEL, Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), Secretaria
Municipal do Meio Ambiente (Sema) e Ministério Público do Paraná (MP-PR). O grupo discute
soluções para diversos problemas que a cidade enfrenta atualmente.
Isso mostra aquilo que sempre defendo: inovação de verdade, é feita pela ciência dentro das
universidades públicas ;)
*Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da
Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de
“Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.