Atualmente em terceiro lugar entre os países exportadores de carne bovina, o Brasil pode mudar de posição brevemente, em meio à crise pela qual passa a Austrália, um de seus maiores concorrentes.
A pecuária australiana sofre com a forte estiagem que assola o país. Além disso, o apoio dado aos Estados Unidos na guerra contra o Iraque pode custar a perda de mercados árabes.
''Aumentamos em 54,7% o volume de exportações no primeiro quadrimestre com relação ao mesmo período de 2002. Se mantivermos esse desempenho, alcançaremos facilmente 1,3 milhão de toneladas até o final do ano'', afirma o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Gado Zebu (ABCZ), José Olavo Mendes.
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Em 2002, o Brasil exportou 1,1 milhão de toneladas do produto, contra 1,2 milhão dos Estados Unidos e 1,3 milhão da Austrália.
O problema dos australianos, segundo José Olavo, é que a estiagem deve diminuir o desempenho da pecuária naquele país, forçando-os a abater mais animais. ''A produção de carne neste ano já está comprometida. E com o abate de mais animais na tentativa de atender a demanda de exportações, os australianos perderão ainda mais tempo para a reposição de seus plantéis para abate''.
A expectativa dos exportadores brasileiros, segundo José Olavo, é conquistar os mercados que a Austrália deve deixar de atender. ''Também temos uma grande apelo comercial, que é a qualidade da carne brasileira'', diz o presidente da ABCZ.
Mesmo o aviso do Ministério da Agricultura (Mapa), que diz respeito à adaptação dos produtores às normas do Sisbov (Sistema Brasileiro de Identificação de Animais de Origem Bovina e Bubalina) não preocupa José Olavo. ''Inicialmente, as exportações podem até sofrer uma pequena retração, mas que deve ser superada em pouco tempo. Os produtores não vão se arriscar a perder mercado e vão rastrear seus animais''.
O Mapa determinou que até o dia 15 de julho todos os animais destinados à exportação para a União Européia deverão ser identificados pelo menos 40 dias antes do abate, de acordo com as normas do Sisbov.
A conhecida qualidade da carne brasileira no mercado internacional vem trazendo outra consequência benéfica para a pecuária. Países importadores têm procurado pela genética brasileira, na busca pela mesma qualidade na produção.
Por isso, a exportação de animais vivos para difusão genética e abate no destino também deve apresentar aumento, segundo Gerson Simão, gerente do Brazilian Cattle Genetics (BCG), consórcio criado para promover a exportação de genética nacional. ''Países do norte da África e do sudeste asiático importam animais vivos porque acreditam que geram empregos ao realizar o abate'', explica.
Gerson Simão também afirma que o apoio australiano ao Estados Unidos na guerra contra o Iraque pode fazer com que o país da Oceania perca mercados entre os árabes. ''Por isso, também já estamos estudando a entrada em países como o Egito''.
A expectativa do BCG é de exportar até 350 mil animais por ano, até 2006. Gerson Simão também deve viajar na semana que vem com técnicos do Ministério da Agricultura para debater protocolos sanitários com representantes da Colômbia, Bolívia, Venezuela e Equador, o que pode promover o aumento das exportações para estes países.