A contratação de trabalhadores da estiva para o carregamento de navios no terminal de fertilizantes da Fospar gerou tumulto na sexta à noite no Porto de Paranaguá. Cerca de dois mil estivadores invadiram e depredaram o escritório da Cargill - proprietária da Fospar - no centro da cidade, e queimaram um carro da empresa. Os manifestantes também invadiram a fábrica da Fospar, derrubaram muros, destruíram a guarita da empresa e danificaram cabos da rede elétrica e de telefonia. Por causa do tumulto, o Porto de Paranaguá permaneceu fechado por 12 horas.
De acordo com o secretário do Sindicato dos Estivadores de Paranaguá, Hélio Alves dos Santos, o protesto foi uma represália à atitude da Cargill, que, segundo ele, voltou atrás no acordo que previa a utilização de mão-de-obra dos trabalhadores da estiva. "Fizemos um contrato para que a Cargill contratasse duas equipes de cinco homens por turno para descarregar os navios da Fospar e eles voltaram atrás, querendo reduzir o número de trabalhadores", diz Santos.
O gerente da Cargill/Fospar em Paranaguá, Sílvio Gori, contesta as informações do sindicalista e diz que um mal-entendido quanto à contratação de pessoal por meio do Orgão Gestor de Mão-de-Obra (Ogmo) gerou toda a confusão. "Fizemos um acerto com o Ogmo para um trabalho de experiência nos primeiros três navios que tiveram autorização do Ibama para serem carregados e depois repassamos o pedido do número de trabalhadores que seria adequado às nossas necessidades", justifica Gori.
Leia mais:
Bancos restringem oferta de empréstimo consignado do INSS
Prefeitura de Londrina vende mais quatro lotes da Cidade Industrial
Brasil fica em 46º lugar de ranking de competitividade com 66 países, diz novo índice
Planos de saúde que viraram alvo do governo lideram lucros em 2024
Segundo ele, a atitude dos estivadores e dos sindicalistas é inaceitável. Gori e outros dois funcionários da Cargill ficaram como refém dos manifestantes. Durante duas horas eles permaneceram presos no escritório da empresa, no centro de Paranaguá. Neste período, os três chegaram a correr risco de agressões físicas, mas a ameaça não se concretizou.
O secretário do Sindicato dos Estivadores justifica o protesto e diz que não será aceita a decisão da Cargill de utilizar menos mão-de-obra do que o necessário, segundo os padrões estabelecidos. "Pelo contrato original que acertamos com a Cargill, seriam contratadas duas equipes de cinco homens cada, que trabalhariam durante 24 horas. Isto equivale a cerca de 40 homens." De acordo com Hélio Alves dos Santos, a não-contratação desse efetivo, revoltou os estivadores, e, depois de iniciado o protesto, "foi impossível segurar o pessoal e conter a revolta dos trabalhadores."
A paralisação da Polícia Militar também contribuiu para que o tumulto assumisse proporções maiores. Sem viaturas e impedidos de sair dos quartéis, os policiais militares só chegaram ao local das manifestações três horas mais tarde. Em Paranaguá, assim como em várias cidades do Estado, mulheres de policiais fazem protesto em frente aos quartéis, reivindicando melhores salários e condições de trabalho para os maridos. De acordo com um soldado do Corpo de Bombeiros, que não quis ser identificado, em Paranaguá cerca de 100 mulheres estão de plantão na frente do 9º Batalhão da Polícia Militar.
O gerente da Cargill, Sílvio Gori, disse ontem que a empresa vai retomar as negociações com o Sindicato dos Estivadores e com o Ogmo na próxima segunda-feira. Ele não soube precisar o valor dos prejuízos e disse que a assessoria jurídica da empresa está avaliando quais as medidas judiciais a serem tomadas. A Polícia Civil de Paranaguá abriu inquérito para apurar as responsabilidades pelo tumulto em Paranaguá.