Um dia após ser rebaixada pela agência de classificação de risco Standard & Poor's e perder o grau de investimento, a Petrobras amargou uma forte queda no valor das ações. Sua cotação atingiu o menor nível desde novembro de 2004. Com a perda do selo de boa pagadora, a empresa terá de pagar juros mais altos. O novo aperto financeiro levará a estatal a revisar seu plano de negócios e reduzir ainda mais seus investimentos.
Para cortar custos e garantir a viabilidade de seus projetos, a estatal pretende começar em outubro um pesado corte no quadro de funcionários terceirizados das suas empresas subsidiárias.
A revisão do plano de negócios é estudada há pelo menos duas semanas, como antecipou o Estado. Técnicos da estatal preparam estudo sobre "cenários de estresse" nos indicadores financeiros para apresentar ao conselho de administração, no dia 30. O colegiado vai avaliar a necessidade de ajustes na estratégia da companhia diante do cenário nebuloso, com pressão cambial, dificuldade de vender ativos e, agora, o novo rebaixamento da nota de crédito.
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Ontem, as ações ordinárias caíram 5,37% e as preferenciais, 3,89%. Em Nova York, as ADRs da estatal recuaram ao menor nível em 13 anos.
Custo da dívida
A principal consequência da perda do grau de investimento é o encarecimento do crédito à empresa, que pesa sobre o alto endividamento da estatal.
O HSBC projeta que o custo da dívida pode subir em até 2 pontos porcentuais com a perda da nota de crédito. Já o banco Credit Suisse projeta uma queda de 10% na receita operacional da empresa.
"Os preços do petróleo em queda, o rebaixamento do Brasil e da Petrobras, além de um real desvalorizado, tornam a execução desses desafios ainda mais difícil", destaca relatório do Credit Suisse.
Apresentado em junho, o plano de negócios da estatal previa corte de 41% nos investimentos, mas algumas premissas estão desatualizadas. Para o dólar, o plano previa cotação a R$ 3,10 - ontem, a moeda fechou em R$ 3,87. A negociação do petróleo Brent no mercado internacional fechou em queda, abaixo dos US$ 50, ante uma previsão de US$ 60. Agora, o plano será revisado.
Cortes de terceirizados
Enquanto não há definição sobre o novo valor dos investimentos, a Petrobras prepara a demissão de funcionários terceirizados em áreas administrativas.
A previsão é que sejam feitos cortes "pesados" em subsidiárias como BR Distribuidora, Transpetro, Petrobras Biocombustíveis, Gaspetro e Liquigás. A prioridade são empresas na lista de desinvestimentos, em projetos cancelados e em setores considerados "inchados".
A estimativa da estatal é cortar até US$ 12 bilhões em "gastos gerenciáveis" até 2019. Mesmo com as opções em estudo, segundo o estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Plácido, a empresa em algum momento terá de recorrer a um aumento de capital - alternativa descartada pela empresa e pelo governo. Pelos cálculos do economista, para reduzir a alavancagem (endividamento), seria necessária uma operação de aproximadamente R$ 100 bilhões. "Quanto mais o tempo passa, mais a situação piora. Nada indica que o petróleo vai parar de cair e o dólar de subir."
Até junho, a estatal registrou endividamento líquido de R$ 329 bilhões - 73% em moeda estrangeira. A depreciação cambial das últimas três semanas elevou em cerca de R$ 100 bilhões a conta. Essa variação jogou por terra o cronograma de redução da relação entre dívida e geração de caixa (alavancagem), hoje no patamar de 4,64 vezes, ante uma meta de 3,33. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.