A entrada de mais de 1 milhão de imigrantes estrangeiros na Alemanha no último ano - o maior número desde 1995 - não será suficiente para suprir o deficit de mão de obra qualificada do país.
De acordo com um estudo da Fundação Bertelsmann, instituto privado de pesquisa alemão, divulgado nesta semana, o número recorde de trabalhadores - segundo a Agência Federal de Estatísticas - em busca de emprego no país, potencializado pela crise econômica em outros países da zona do euro, precisará ser complementado por profissionais qualificados de fora da União Europeia nos próximos anos.
"O boom recente de imigrantes é bom para o país, mas a Alemanha precisará reorganizar estratégias da política de imigração para atrair a longo prazo mais profissionais de outros países, como China e Índia", diz Ulrich Kober, diretor da fundação em entrevista à BBC Brasil.
Leia mais:
Um terço das famílias brasileiras sobreviveu com renda de até R$ 500 por mês em 2021, mostra FGV
Taxa de desemprego no Brasil cai para 9,8%, segundo IBGE
Termina nesta terça o prazo para entrega da declaração do Imposto de Renda
Número de inadimplentes de Londrina cai 14% em abril, segundo dados do SPC
Há vagas
Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica de Colônia, há 70 mil vagas para engenheiros em aberto na Alemanha ou 210 mil quando contabilizadas vagas para profissionais de matemática, especialistas de tecnologia da informação e cientistas. "São profissionais extremamente qualificados para vagas específicas em demanda na indústria. Mas quando falamos de diplomas em outras áreas, como setor de serviços ou advogados, por exemplo, essa necessidade hoje é menor", explica Oliver Koppel, economista do Instituto.
O fluxo de migração vindo de países como Espanha, Portugal e Itália alivia o problema, mas o encolhimento da população adulta da Alemanha aumentará, nas próximas décadas, a demanda por mão de obra qualificada, segundo especialistas. "Com os atuais índices de natalidade e crescimento populacional, estamos falando de cerca de 5,5 milhões de adultos a menos em dez anos, total que não será suprido nem com a mão de obra doméstica, nem com a imigração europeia", diz Koppel.
Exportadores de talento
"A China e a Índia, que são tradicionais exportadores de talento, poderão cumprir papel ainda mais importante no fornecimento de engenheiros e profissionais de TI", diz Stefan Sievert, pesquisador do Instituto Berlim, especializado em pesquisas de População e Desenvolvimento.
Cerca de 10 mil chineses estudam anualmente na Alemanha e pelo menos metade permanece no país para trabalhar, segundo o headhunter Tobias Busch, especializado em recrutar profissionais qualificados chineses para o mercado de trabalho alemão. "A China certamente tem potencial para fornecer mais trabalhadores com diploma para áreas de mecatrônica, energia e elétrica para indústrias alemãs", diz Sievert.
O estudo da Bertelsmann aponta que as restrições da política de imigração da Alemanha na última década dificultam a vinda de pessoas de países não-europeus, contabilizando apenas 17 mil profissionais qualificados de fora da UE em 2011, de um total de 300 mil estrangeiros.
Para a fundação, facilitar procedimentos para conseguir a cidadania alemã, garantir proteção contra discriminação e oferecer programas de aprendizado da língua alemã são algumas das recomendações que seriam decisivas nesse processo.